DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

28/05/2018

SOLIDÃO AO SOL



palavras em brasa queimam
o solo da garganta;
fagulhas de vocábulos espraiam-se
corpo adentro devastando
brotos incipientes desenraizados

solidão a pino corroendo o subsolo
da língua vibrante que estremece
entre vozes exangues

sol diluidor de palavras que
se evaporam no vendaval
de lembranças, tantas

solidão, areia
faca de amolar pedras

*****

Mergulho imperfeito

mergulho em ti
afogo meus desertos
na extensão de uma
língua curta e calada

sou tragada
pelas areias movediças
pelas águas escuras
da solidão

meu olhar desdobra-se
em espelhos quebrados
que refletem antigas quimeras
no lusco-fusco dos dias

*****

Por um fio

a faca
o fio afiado
água-lâmina
mãos que amolam
acariciam a navalha
cortam as entranhas
da carne em agonia

morte em sépia
arrastada pela dor
a espreitar da janela

o olhar cai sobre
um passado de sombras recicladas

Postado por cirandeira

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