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Os próprios tiranos achavam estranho que os homens
pudessem suportar um homem que os maltratasse. Por isso se cobriam de bom grado com o manto da religião e, se possível, queriam tomar emprestada alguma amostra da divindade para manter sua vida malvada. Assim Salmoneu*, por ter zombado do povo querendo passar-se por Júpiter, encontra-se agora no fundo do inferno, segundo a sibila de Virgílio, que o viu
Sofrendo os tormentos, por querer imitar
os estrondos do Olimpo e os raios de Júpiter.
Puxado por quatro cavalos e agitando uma tocha,
atravessava os povos da Grécia e a cidade no centro da Élida.
Triunfante e pedindo para si as honras divinas.
Pobre louco, simulava os trovões e o raio inimitável
com a trompa de bronze e o tropel dos cascos dos cavalos.
Mas Júpiter lançou seu raio entre as nuvens densas,
não tochas nem as chamas fumegantes de um tição,
e o precipitou de cabeça no abismo profundo.
(Virgílio, Eneida, VI)
Se aquele que quis simplesmente fazer-se de tolo está sendo agora tão bem tratado, creio que aqueles
que abusaram da religião para fazer o mal se encontrarão em situação ainda pior.
Étienne de La Boétie - Sarlat (França), 1530-1563
* Segundo a mitologia grega, Salmoneu era filho de Éolo e irmão de Sísifo. Tentou igualar-se a Zeus, imitando seus raios. Quis que seus súditos lhe atribuíssem honras divinas e oferecessem sacrifícios.
Foi atirado no inferno por Zeus.
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