DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

15/01/2019

O galo e a raposa




No meio dos galhos de uma árvore bem alta um galo estava empoleirado e cantava a todo o volume. Sua voz esganiçada ecoava na floresta. Ouvindo aquele som tão conhecido, uma raposa que estava caçando se aproximou da árvore. Ao ver o galo lá no alto, a raposa começou a imaginar algum jeito de fazer o outro descer. Com a voz mais boazinha do mundo, cumprimentou o galo dizendo: - Ó  meu querido primo, por acaso você ficou sabendo da proclamação de paz e harmonia universal entre todos os tipos de bichos da terra, da água e do ar? Acabou essa história de ficar tentando agarrar os outros para comê-los. Agora vai ser tudo na base do amor e da amizade. Desça para a gente conversar com calma sobre as grandes novidades! O galo, que sabia que não dava para acreditar em nada do que a raposa dizia, fingiu que estava vendo uma coisa lá  longe. Curiosa, a raposa quis saber o que ele estava olhando com ar tão preocupado. -  Bem –  disse o galo –,  acho que estou vendo uma matilha de cães ali adiante. -  Nesse caso é melhor eu ir embora – disse a raposa.   -  O que é isso, prima? – disse o galo. – Por favor, não vá ainda! Já estou descendo! Não vá me dizer que está com medo dos cachorros nesses tempos de paz?!   -  Não, não é medo – disse a raposa –,  mas ... e se eles ainda não estiverem sabendo da proclamação?

Fábula de Esopo -  Tradução de Heloísa Jahn. São Paulo. Companhia das Letrinhas.

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