O maior trem do mundo
leva minha terra
para a Alemanha
leva minha terra para o Canadá
leva minha terra para o Japão
O maior trem do mundo
puxado por 5 locomotivas a óleo diesel
engatadas geminadas desembestadas
leva meu tempo, minha infância, minha vida
triturada em 163 vagões de minério e destruição
O maior trem do mundo transporta a coisa mínima do mundo,
meu coração itabirano.
Lá vai o trem maior do mundo
vai serpenteando, vai sumindo
e um dia, eu sei não voltará
pois nem terra nem coração existem mais.
(publicado no jornal Cometa Itabirano-1984)
Vila da utopia
Parecia-me que um destino mineral, de uma geometria dura e inelutável, te prendia, Itabira, ao dorso fatigado da montanha, enquanto outras alegres
cidades, banhando-se em rios claros ou no próprio mar infinito, diziam que a vida não é uma pena, mas um prazer. A vida não é um prazer, mas uma pena. Foi esta segunda lição, tão exata como a primeira, que aprendi contigo, Itabira, e em vão meus olhos perseguem a paisagem fluvial, a paisagem marítima:
eu também sou filho da mineração, e tenho os olhos vacilantes quando saio da escura galeria para o dia claro.
Lira Itabirana
O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
Entre estatais
E multinacionais,
Quantos ais!
A dívida interna.
A dívida externa.
A dívida eterna.
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
(Publicado no jornal Cometa Itabirano - 1984)
Carlos Drummond de Andrade - 1902-1987
Sí, demasiados "ais" las que expolian la Naturaleza de vuestro hermoso país desde hace tiempo. Ahora además lo harán con connivencia de quien os desgobierna.
ResponderExcluirHermoso poema, pese a lo que cuenta.
Un abrazo,