DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

01/05/2019

A Mulher *




A mulher que toma a pena
Para em lira a transformar,
É, para os falsos sectários,
Um crime que os faz pasmar!
Transgride as leis da virtude;
A mulher deve ser rude,
Ignara por condição!
Não deve aspirar à glória!...
Nem um dia na história
Fulgurar com distinção!

Mas eu que sinto no peito,
Dilatar-me o coração,
Bebendo as auras da vida,
Na sublime inspiração:
Eu que tenho uma alma grande,
Uma alma audaz que s'expande
No espaço a voejar,
Não posso curvar a fronte,
Nesse estreito horizonte
E na inércia ficar!

Não posso! Gritem sofistas,
Digam tudo o que quiser!
Chamem tênue, duvidosa
A virtude da mulher
De fantasia arrojada;
Que minh'alma extasiada
Nas harmonias do Céu,
Ficará indiferente,
Ao que a malícia invente
P'ra manchar o brilho seu!

* Luísa Amélia de Queirós Nunes Brandão, considerada a primeira poetisa piauiense, nasceu em
Piracuruca em 26.11.1838 e faleceu em Parnaíba, cidade do mesmo estado, em 12.11.1898. Publicou vários poemas em jornais e revistas. Publicou dois livros em pleno século XIX - Flores incultas e Georgina ou os efeitos do amor - época em que a mulher era bastante cerceada, principalmente no interior do nordeste brasileiro. Luísa Amélia de Queiroz é patrona de uma das cadeiras da Academia Piauiense de Letras, da Academia Parnaibana de Letras e da Academia de Letras da Região de Sete Cidades.
Poema extraído do livro Escritoras brasileiras do século XIX - Vol.II - Coordenação Zahidé Lupinacci Muzzart - Editora Mulheres

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