DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

08/05/2019

Dois poemas de Júlia Cortines *




Esfinge


Olha!
Levanta agora a pálpebra descida
E o segredo desvenda enfim do teu olhar!
Fala!
Descerra a boca há tanto tempo emudecida
Deixa o segredo enfim da palavra escapar!

***

Antes de mergulhar no silêncio da morte,
Ou da idade sentir a fraqueza e o torpor,
Eu quisera lançar, num supremo transporte,
Meu grito de horror.

Mas sei que por mais forte e por mais estridente
Que ela corra através do infinito, até vós,
Ó céus, que além brilhais numa paz, inclemente,
Nem qual brando rumor chegará minha voz!

Mas sei que não há dor que a natureza vença,
E que nunca a fará de leve estremecer,
Na sua eternidade e sua indiferença
O lamento que vem de um transitório ser.

Mas sei que sobre a face execrável da terra,
Onde cada alma sente, em torno a solidão,
Esse grito, que a dor de uma existência encerra,
Não irá ressoar em nenhum coração

Contudo, num clamor de suprema energia,
Eu quisera lançar minha voz! Mas a quem
Enviar esse brado imenso de agonia,
Se para o compreender não existe ninguém?
(Vibrações)

Júlia Cortines nasceu em Rio Bonito(RJ)em 1868 e faleceu em 1948. Publicado em Escritoras Brasileiras
do Século XIX - Vol. II - Organização de Zahidé Lupinacci Muzart - Ed. Mulheres


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