Olha!
Levanta agora a pálpebra descida
E o segredo desvenda enfim do teu olhar!
Fala!
Descerra a boca há tanto tempo emudecida
Deixa o segredo enfim da palavra escapar!
***
Antes de mergulhar no silêncio da morte,
Ou da idade sentir a fraqueza e o torpor,
Eu quisera lançar, num supremo transporte,
Meu grito de horror.
Mas sei que por mais forte e por mais estridente
Que ela corra através do infinito, até vós,
Ó céus, que além brilhais numa paz, inclemente,
Nem qual brando rumor chegará minha voz!
Mas sei que não há dor que a natureza vença,
E que nunca a fará de leve estremecer,
Na sua eternidade e sua indiferença
O lamento que vem de um transitório ser.
Mas sei que sobre a face execrável da terra,
Onde cada alma sente, em torno a solidão,
Esse grito, que a dor de uma existência encerra,
Não irá ressoar em nenhum coraçãoJú
Contudo, num clamor de suprema energia,
Eu quisera lançar minha voz! Mas a quem
Enviar esse brado imenso de agonia,
Se para o compreender não existe ninguém?
(Vibrações)
Júlia Cortines nasceu em Rio Bonito(RJ)em 1868 e faleceu em 1948. Publicado em Escritoras Brasileiras
do Século XIX - Vol. II - Organização de Zahidé Lupinacci Muzart - Ed. Mulheres
do Século XIX - Vol. II - Organização de Zahidé Lupinacci Muzart - Ed. Mulheres
Nenhum comentário:
Postar um comentário