David Sale
Já não sabia se seu corpo fora uma casa ou um quarto de despejos. Saíra dali há tão pouco tempo. Tudo agora transformara-se em imagens encobertas por uma névoa, tudo desaparecendo para dar lugar a faces deformadas, sem vida. Tentou virar a página para ter uma ideia melhor - tão bom se pudesse fazer o mesmo com a vida. Fez uma pausa.
Todos os dias seus olhos choviam, não sabia o porquê; do movimento das nuvens sobre sua cabeça? Caminhava até à porta sem se decidir. Finalmente percebeu que não se vira uma página impunemente; cada uma delas está guardada no livro da memória, mesmo que não seja lida. Existirá algo ou alguém que possa lavar o horizonte?de onde, quem sabe do movimento das nuvens sobre
nossas cabeças? Formavam pequenos lagos que se transformavam em arquipélagos, ilhas que evaporavam ao sabor dos ventos ou com o calor do sol. E então caminhava até o umbral da porta, oscilando entre avançar ou recuar.
- Vem! Acenavam alguns vultos; outros sugeriam que
permanecesse imóvel.
Finalmente percebeu que não se vira uma página impunemente. Cada uma delas está guardada no livro da memória, mesmo que não seja lida.
Existirá algo ou alguém com o poder de lavar o horizonte?
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