Sob um vasto céu cinzento, em uma vasta planície poeirenta, sem caminhos, sem grama, sem um espinho, sem um marco sequer, encontrei diversos homens que andavam curvados.
Cada um deles carregava sobre as costas uma enorme Quimera, tão pesada quanto um saco de farinha ou de carvão ou a bagagem de um soldado de infantaria romano.
Mas a monstruosa besta não era um peso inerte; ao
contrário, ela abraçava e oprimia o homem com seus músculos elásticos e potentes; ela se agarrava com
suas duas longas garras ao peito de sua montaria; e
sua fabulosa cabeça cobria a fronte do homem como
um daqueles capacetes horríveis com os quais os antigos guerreiros esperavam aterrorizar ainda mais os inimigos.
Abordei um daqueles homens e perguntei-lhe aonde iam assim. Ele me respondeu que não sabia de nada,
nem ele, nem os outros, mas que, evidentemente, iam a algum lugar, pois eram impulsionados por uma
invencível necessidade de andar.
Coisa curiosa a se observar: nenhum daqueles viajantes parecia irritado com a besta feroz dependurada em seu pescoço e agarrada às suas costas; dir-se-ia que a consideravam como uma parte de si mesmos. Nenhum daqueles rostos cansados e austeros mostrava o menor sinal de desespero; sob a cúpula spleenética do céu, os pés
mergulhados na poeira de um terreno tão desolado
quanto aquele céu caminhavam com a fisionomia resignada daqueles que estão condenados a esperar sempre.
E o cortejo passou ao meu lado e penetrou na atmosfera do horizonte, lá onde a face arredondada do planeta escapa à curiosidade do olhar humano.
E, durante alguns instantes, obstinei-me a querer compreender aquele mistério; mas logo a irresistível
Indiferença se abateu sobre mim, e fui mais duramente oprimido por ela que aqueles viajantes por suas esmagadoras Quimeras.
Charles Baudelaire (Paris, 1821-1867)em Pequenos poemas em prosa - O spleen de Paris
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