Não pretendo nada,
nem flores, louvores, triunfos,
nada de nada.
Somente um protesto,
uma brecha no muro,
e fazer ecoar,
com voz surda que seja,
e sem outro valor,
o que se esconde no peito,
no fundo da alma
de milhões de sufocados.
Algo por onde se possa filtrar o pensamento,
a ideia que puseram no cárcere.
A passagem subiu,
o leite acabou,
a criança morreu,
a carne sumiu,
o IPM prendeu,
o DOPS torturou,
o deputado cedeu,
a linha dura vetou,
a censura proibiu,
o governo entregou,
o desemprego cresceu,
a carestia aumentou,
o Nordeste encolheu,
o país resvalou.
Tudo dó, tudo dó, tudo dó...
E em todo o país
repercute o tom
de uma nota só...
Rondó da liberdade
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão.
Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada
do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.
Carlos Marighella (Salvador, 1911-1969)em:
Poemas:rondó da liberdade - Edit.Brasiliense, 1994
Conmovedor y hermosisimo grito de libertad.
ResponderExcluirE preciso ter a coragem de dizer...
No tengo miedo, tengo razón, tengo derechos y no tengo alma de exclavo.
No me puedes comprar ni manipular, soy libre. Nosotros somos más, sólo que vosotros tenéis más medios y hacéis más ruido.
Un abrazo,