DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

29/03/2020

O barco, meu coração...

Hyeronimus Bosch, Nau dos insensatos


I - Nestes tempos de inimigos, (invisível e visível), venho tentando construir um barco de papel numa tela virtual para navegar, a despeito da tempestade que se avizinha. A tarefa é árdua e difícil. Receio que ela esteja apenas começando; estou insegura e angustiada; não sei se ou quando terminarei a construção desse barco. Há uma longa travessia a ser
percorrida. Ainda assim, continuarei tentando: um dia de cada vez. Meu coração não se cansa de bombear sangue para os rios que trafegam para outros corações que estão neste mesmo barco. O mar está revolto, repleto de embarcações de insensatos. Tempestades e intempéries fazem parte dessa longa travessia que é o viver. NAVEGAR É PRECISO!

21/03/2020

VITA BREVIS, ARS LONGA ( Hipócrates )




Ars longa; Vita Brevis

Tão longa a arte pra tão curta vida
Tão curta a vida pra tão longos danos
Tão longos dias pra tão curtos anos
Tão curto o tempo pra tão longa vida

É tanta coisa pra ser sabida
Em poucos anos céleres e insanos
Que a vida voa breve em desenganos
Temo-la assim vivida e não vivida

Célere a vida e lento é o conhecer
Lento é o saber e célere é o vento
Que sói sumir bem antes do saber

Vida breve, fugaz conhecimento
Fugacidade que é inerente ao ser
Que mais servira se tivesse tempo.

Gil Fenerich, professor de música e língua portuguesa, poeta e violeiro. Monte Alto(SP)



20/03/2020

Pesadelo

Albrecht Dürer


Acordou no meio da noite. Sonhara com a Morte numa grande rede branca, e redonda.

13/03/2020

Relendo "A peste"





Não lembro exatamente quando foi que li pela primeira vez "A peste", de Albert Camus, mas tenho a lembrança nítida do quanto me impactou.
Relendo hoje, em pleno século XXI, este livro que foi publicado pela primeira vez em 1947, percebo o quanto a história se repete, mesmo se apresentando com outra roupagem. Escrito no pós-guerra, Camus relata o que ocorreu na cidade de Orã depois que ela é atingida pela peste transmitida por ratos, dizimando sua população. Narrado sob o ponto de vista de um médico, que não mede esforços para conter a epidemia, Camus destaca a solidariedade, a solidão, o medo da morte, e a própria morte, entre outros dilemas vividos pela humanidade.

"Uma forma conveniente de travar conhecimento com uma cidade é procurar saber como se trabalha, como se ama e como se morre.
 [Isto é: aqui as pessoas se entediam e se dedicam a criar hábitos. Nossos concidadãos trabalham muito, mas apenas para enriquecer. Interessam-se sobretudo pelo comércio e ocupam-se, em primeiro lugar, segundo a sua própria expressão, de fazer negócios. Naturalmente, apreciam prazeres simples, gostam de mulheres, de cinema e de banhos de mar. Muito sensatamente, porém, reservam os prazeres para os domingos e os sábados à noite, procurando nos outros dias da semana, ganhar muito dinheiro.]
[Assim, a primeira coisa que a peste trouxe aos nossos concidadãos foi o exílio.
Mas, se havia exílio, na maior parte dos casos era o exílio em casa.
No exílio geral, eram os mais exilados, pois se o tempo despertava neles, como em todos, a angústia que lhe é própria, estavam também presos ao espaço e chocavam-se sem cessar de encontro aos muros que separavam o seu refúgio empestado da pátria perdida."]

01/03/2020

O couro de todos nós




O couro que me cobre a carne
come minha pele
come o sangue que corre
em minhas veias
come minha alma

O couro que me cobre a carne
cobre a tua, e a de todos nós
bebe o sangue que te corre
pelas veias suga o ar que todo
respiramos

O couro come a todos
noite e dia, de sol a sós -
todos vós - sem vozes
E ai dos que sobem para
os muros, dos que habitam
nas copas ou nas cabanas...

O sol queimará, inclemente!