Ismael Nery
Há, sem dúvida, algo de tragicamente destrutivo no fundo do amor, tal como se nos apresenta na sua forma animal primitiva, nesse instinto irresistível que leva o macho e a fêmea a confundir as suas entranhas, num estreitamento furioso. Aquilo mesmo que une os corpos, separa sob certos aspectos, as almas; ao abraçarem-se, odeiam-se tanto como se amam, e sobretudo lutam, lutam por um terceiro, que ainda não vive. O amor é uma luta, e há espécies animais em que o macho, ao unir-se com a fêmea, maltrata esta; e outras espécies há em que a fêmea devora o macho logo que este a fecundou. Tem-se dito que o amor é um egoísmo recíproco. E, de fato, cada um dos dois amantes procura possuir o outro; e se ele procura por este outro, sem nisso pensar, nem propor a sua própria perpetuação, procura portanto, o seu prazer. Cada um dos dois amantes é para o outro, diretamente,, um instrumento de prazer, e indiretamente, de perpetuação. E assim, são tiranos e escravos; cada um deles é ao mesmo tempo, tirano e escravo um do outro.
Miguel de Unamuno, Bilbau (Espanha) - 1864-1900
Nenhum comentário:
Postar um comentário