Eu poderia enfeitar-me toda de mentiras, se fosse romântica. Escancarar minhas portas internas, abrir todas as janelas do meu sótão, se tivesse uma casa de alicerces sólidos o suficiente para enfrentar vendavais e tempestades. Porém, minha morada não tem teto, é feita de pele transparente onde as palavras voam por asfixia indo pousar no asfalto das ruas mal iluminadas, nas calçadas ocupadas por carros e corpos ao relento, sob olhares indiferentes, apressados e ensimesmados. Eu poderia rir, e até zombar da desgraça alheia, se o alheio não estivesse entranhado na pele do meu ser; poderia também, cuspir no prato que como, se não soubesse que a porcelana só é bela porque é um pó concentrado, enquanto eu serei apenas poeira um dia...
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