DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

31/01/2009

Hieronymus Bosch (1450-1516), pseudônimo de Jeroen van Aeken, pintor flamengo
nascido em Hertogenbosch, Bélgica, possui aproximadamente 40 telas, mas apenas
sete são assinadas e nenhuma possui data. Sua obra retrata a vulnerabilidade do homem diante das tentações do cotidiano, ideia dominante na Idade Média e em
particular na cidade onde nasceu, cujos princípios religiosos eram bastante rígidos, onde a concepção de pecado e castigo eram seguidas à risca. Bosch fazia parte da
Confraria de Nossa Senhora, para quem executava trabalhos. " O Jardim das delícias"
é considerado seu trabalho mais maduro e encontra-se no Museu do Prado, em Madri, Espanha.
"O Jardim das Delícias" (detalhe)
Hieronymus Bosch
"O Jardim das Delícias"- Hieronymus Bosch


30/01/2009


Nenhuma luz retoca este semblante
que irrompe das valas.
Nenhuma voz fere o anjo
que mede os sonhos falidos.
Venho pelas encostas
com dez humanidades na capanga
e uma dor no dente cariado.
Me pedirão que recite algum segredo?
Algum medo terrível
povoará minha sombra?

O meu avô foi um viúvo sem luto,
eu apenas beijo a estrada
que se acabou em teu sonho.
De bruços na história da gagueira,
estudo a língua das traças.
Não conheço o justo, não recebí o anel,
não fui sequer o irmão do convidado.
Respiro contra o silêncio
que subjaz.
E meu sussurro faz estremecer
o fragilíssimo crepúsculo
dos nãos.

Meditação com rasuras - extraído de AMÁLGAMA, de Roberval Pereyr (Coleção
Selo Editorial Letras da Bahia, 1995)

29/01/2009

"Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem!"

Bertold Brecht - (1898 - 1956)

26/01/2009

O Mercado Ver-o-Peso, data do século XVII e foi criado pela Coroa Portuguesa com o
objetivo de fiscalizar e receber impostos. A Casa do Haver-o-Peso como era chamada,
dispunha de uma balança e um funcionário público que intermediava as transações comerciais da época. Começou como um simples ancoradouro de navios vindos de
todas partes do mundo na Baía do Guajará, formada pelos rios Guama, Mogu e Acará.
É considerado a maior feira livre a céu aberto da América Latina. Em 2007 completou
387 anos. Alí pode-se encontrar de quase tudo: carne bovina, carne de búfalo, peixe,
aves, frutas, verduras, chás das mais variadas espécies, miçangas, colares, cerâmica marajoara(vinda da ilha de Marajó), garrafadas contra mau-olhado (!). Enfim, é um local que vale a pena conhecer.
Mercado Ver-o-peso - Belém

25/01/2009

Casa das Onze Janelas - Centro Cultural - Belém-PA


FÓRUM SOCIAL MUNDIAL
A partir do próximo dia 27 de janeiro até o dia 1º de fevereiro de 2009, a cidade de Belém (PA) receberá milhares de pessoas de outros estados do Brasil e de vários países do mundo (principalmente da América Latina), para a reunião do Fórum Social Mundial(FSM). Durante seis dias essas pessoas estarão reunidas para debater, refletir, formular propostas, trocar experiências entre organizações e movimentos politicamente engajados.
Os indígenas, os quilombolas, as populações ribeirinhas e outras minorias deverão ser a prioridade política no FSM 2009. Belém receberá cerca de três mil indígenas de
todo o mundo. Cerca de 27% do território da amazônia, formada pelos nove países
da Pan Amazônia, são ocupados por terras indígenas e aproximadamente 10% de
toda a população da América Latina(44 milhões de pessoas), é composta por 522 povos tradicionais de diferentes etnias: crianças, adultos que sofreram perdas irreversíveis provocadas pela expansão das atividades de empresas multinacionais
sobre as reservas indígenas. Também estará no centro dos debates destes povos no
Fórum Social Mundial a defesa do planeta.
O Fórum Social Mundial aconteceu pela primeira vez no Brasil em 2001, na cidade de Porto Alegre(RGS). Foi criado como contraponto ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

23/01/2009

Ofício
Cidade: monstro de egos.
Sou um geógrafo de cegos
um terapeuta de gagos.
Na noite dos mil mendigos
inscrevo a noite dos signos
num círculo de mil saaras.
Da imensa mansão de sombras
(sob o roteiro das bombas)
recorto o mapa dos párias.
Roberval Pereyr - poeta, ensaísta e professor, nasceu em Antonio Cardoso(BA)
em 1953. Atualmente, vive em Feira de Santana (BA)

22/01/2009

Um beijo. Eles se beijam. Ele toma sua boca em sua boca, ela toma sua boca em sua boca, eles se beijam. Ele abre seus lábios à sua boca, à sua língua, ela abre seus lábios
aos seus lábios, à sua boca, à sua língua, ela gira sua língua em sua boca, ele gira sua língua em sua boca, ele descobre seu beijo, ela descobre a sensação de seu beijo, sua
língua doce em sua boca, sua língua doce contra sua língua, ele envolve sua língua em sua língua, ele a mistura, ela gira sua língua contra sua língua, eles se beijam, ela a
mistura, eles se misturam, ela cede sua boca à sua boca, ele cede sua boca à sua boca,
eles se dão um beijo, ela lhe dá um beijo e sua língua, ele acaricia sua língua em sua boca, ela acaricia sua língua em sua boca, ela o deixa entrar, ele a deixa entrar, eles se
amam, sua língua está em sua boca, ela mete sua língua em sua boca, seus lábios estão colados contra seus lábios, ela acaricia sua língua contra sua língua que gira em
sua boca contra sua língua, acaricia sua língua contra sua língua quente e oferecida,
ele mete sua língua em sua boca, e eles se amam, eles se beijam.

"Minha Língua" - Christophe Tarkos, poeta francês nascido em Marseille(1964-2004), publicou mais de vinte livros entre os quais destacam-se "Oui", "Anachronisme", "L'Argent, "Ma Langue". Faleceu vítima de um tumor no cérebro.

19/01/2009

Instalações de Cláudio Parmiggiani no Collège des Bernadins, Paris - Fotos de André Morain

17/01/2009

Lua - Tarsila do Amaral


Pintura corporal dos habitantes do rio Omo - Etiópia


16/01/2009

Quando começares tua viagem à Ítaca
pede que seja longo o caminho,
cheio de aventuras, de lições.
Pede que sejam muitas as madrugadas,
que entres em portos que teus olhos desconheciam,
que chegues a cidades para aprender dos que sabem.
Tem sempre no coração a ideia de Ítaca.
Tua chegada alí é o teu destino.
Mas não apresses nunca a travessia,
é preferível que dure muitos anos,
que tenhas envelhecido ao fundear a ilha,
enriquecido por tudo que terás ganho na caminhada,
sem esperar que te ofereçam riquezas.
Ítaca te ofereceu tão bela viagem!
Sem ela não terias começado o caminho...
E se agora Íaca te parece pobre, não penses
que te enganaste. Como te fizeste sábio,
saberás muito bem o que significam as Ítacas.

Ítaca - poema de Konstantinos Pétru Kaváfis, nasceu em Alexandria (Egito), em 1863 e faleceu em 1933. Mesmo sendo egípcio escrevia seus poemas em grego.
O Parque Nacional de Sete Cidades está localizado ao norte do Estado do Piauí, entre as cidades de Piripiri e Piracuruca a cerca de 217km da capital Teresina. Possui uma área de 6.221 ha e foi criado em junho de 1961. Suas formações rochosas assemelham-se a animais, objetos e pessoas. Recebeu este nome por apresentar sete
diferentes grupos de rochas separadas entre si, cada um deles considerado como uma
"cidade". Além da atração geológica, o Parque é internacionalmente conhecido por suas inscrições rupestres nas paredes das rochas, com uma idade presumível de seis
mil anos.
Pintura Rupestre Sete Cidades - PI

12/01/2009

Uma parte de mim é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera;
outra parte delira.
Uma parte de mim é permanente
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem;
outra parte,
linguagem
Traduzir-se uma parte na outra parte
- que é uma questão de vida ou morte -
Será arte?

Ferreira Gullar, José Ribamar, nasceu em São Luís(MA) em 1930.
Desconfiai do mais trivial, na aparência simples. E examinai sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempos de desordem sangrenta, de confusão organizada,
de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve
parecer natural, nada deve parecer impossível de mudar!

Bertold Brecht

11/01/2009

Tarsila do Amaral


Tarsila do Amaral nasceu em Capivari, SP, em 1886 e faleceu na cidade de São Paulo,
em 1973. Filha de uma família da aristocracia paulista, aos dezesseis anos foi estudar
em Barcelona, na Espanha onde aprendeu desenho e pintura. Em 1922 ingressou no
Salão dos Artistas Franceses, vindo em seguida para São Paulo onde criou o grupo "Cinco Modernistas" juntamente com Menotti del Picchia, Mário de Andrade, Anita
malfatti e Oswald de Andrade, com quem veio a casar-se em 1926. A preocupação do
grupo era sobretudo mostrar a mecanização dos seres humanos. Em 1928 pintou
Abaporu, que em tupi-guarani significa "homem que come carne humana" e ofereceu
a Oswald, que inspirado neste quadro escreveu "Manifesto Antropófago", provocando
uma grande polêmica no meio artístico e grandes mudanças na arte brasileira.

08/01/2009

Em 10 de maio de 1933, em Berlim, diante das câmeras, o ministro da propaganda
Paul Joseph Goebbels discursou durante a queima de mais de 20 mil livros para
uma multidão entusiasmada de mais de 100 mil pessoas: "Esta noite vocês fazem
bem em jogar no fogo essas obscenidades do passado. Este é um ato poderoso,
imenso e simbólico, que dirá ao mundo inteiro que o espírito velho está morto.
Destas cinzas irá se erguer a fênix do espírito novo". Um menino de doze anos,
Hans Pauker, mais tarde diretor do Instituto Leo Baeck de Estudos Judaicos em
Londres, presenciou a queima e relembrou que, à medida que os livros eram jogados
às chamas, faziam-se discursos para dar solenidade à ocasião."Contra a exacerbação
dos impulsos inconscientes baseada na análise destrutiva da psique, pela nobreza da
alma humana, entrego às chamas as obras de Sigmund Freud, declamou um dos
censores antes de queimar os livros de Freud, Steinbeck, Marx, Zola, Hemingway,
Einstein, Proust, H.G.Wells, Thomas Mann, Jack London, Bertold Brecht e centenas
de outros receberam a homenagem de epitáfios semelhantes.

Extraído de Uma História da Leitura

04/01/2009

Um poema de Vinícius de Moraes ordena, suplica que "Pensem nas crianças mudas telepáticas. Pensem nas meninas cegas inexatas.
Pensem nas mulheres rotas alteradas. Pensem nas feridas como
rosas cálidas"...
É esse poema, A Rosa de Hiroxima, é essa talha em versos que ordena, que resiste e insiste em nossa memória, quando vemos a foto de Samaeah
Hassan, de seis anos, abatida na faixa de Gaza,(Palestina). Essa flor fuzilada, entre gazes, olhinhos semicerrados, e a própria Rosa da Palestina. {..........................................................................................}

Extraído do blog Sapoti de Japaranduba, texto do jornalista Urariano Mota
Imagens de livros projetada sobre a Torre de Davi, cidadela secular
preservada como uma torre militar, na cidade de Jerusalém. Hoje
atração turística.
No primeiro século da era cristã, o filósofo latino Sêneca denunciava o
acúmulo exibicionista de livros:"Muita gente sem educação escolar usa
livros não como instrumento de estudo, mas como decoração para a sala
de jantar". Em 1509, o humanista Geiler von Kaysersberg afirmava que:
"Aquele que quer livros para ganhar fama deve aprender algo com eles;
não deve armazená-los em sua biblioteca, mas na cabeça.Mas este primeiro louco pôs seus livros em correntes e fez deles prisioneiro; se pudessem se libertar e falar(os livros), arrastariam-no até o juiz, exigindo que ele, e não eles, fosse encarcerado".
Na Grécia, em Roma e Bizâncio, o poeta erudito - o doctus poeta, representado segurando uma tabuleta ou um rolo - foi considerado um modelo, mas esse papel estava destinado aos mortais. Os deuses jamais
se ocupavam de literatura;as divindades gregas e latinas jamais eram mostradas segurando um livro. O cristianismo foi a primeira religião a
por um livro nas mãos de seu deus e, a partir da metade do século XIV,
o livro emblemático cristão passou a ser acompanhado por outra imagem
- a dos óculos.

"O Louco dos Livros" - Alberto Manguel

02/01/2009

Eu quero compor um soneto duro
como poeta algum ousara escrever.
Eu quero pintar um soneto escuro,
seco, abafado, difícil de ler.
Quero que meu soneto no futuro,
não desperte em ninguém nenhum prazer.
E que, no seu maligno ar imaturo,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser.
Esse meu verso antipático e impuro
há de pungir, há de fazer sofrer
tendão de Vênus sob o pedicuro.
Ninguém o lembrará:tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo
claro enigma, se deixa surpreender.

"Oficina Irritada" - Carlos Drummond de Andrade