Nenhuma luz retoca este semblante
que irrompe das valas.
Nenhuma voz fere o anjo
que mede os sonhos falidos.
Venho pelas encostas
com dez humanidades na capanga
e uma dor no dente cariado.
Me pedirão que recite algum segredo?
Algum medo terrível
povoará minha sombra?
O meu avô foi um viúvo sem luto,
eu apenas beijo a estrada
que se acabou em teu sonho.
De bruços na história da gagueira,
estudo a língua das traças.
Não conheço o justo, não recebí o anel,
não fui sequer o irmão do convidado.
Respiro contra o silêncio
que subjaz.
E meu sussurro faz estremecer
o fragilíssimo crepúsculo
dos nãos.
Meditação com rasuras - extraído de AMÁLGAMA, de Roberval Pereyr (Coleção
Selo Editorial Letras da Bahia, 1995)
que irrompe das valas.
Nenhuma voz fere o anjo
que mede os sonhos falidos.
Venho pelas encostas
com dez humanidades na capanga
e uma dor no dente cariado.
Me pedirão que recite algum segredo?
Algum medo terrível
povoará minha sombra?
O meu avô foi um viúvo sem luto,
eu apenas beijo a estrada
que se acabou em teu sonho.
De bruços na história da gagueira,
estudo a língua das traças.
Não conheço o justo, não recebí o anel,
não fui sequer o irmão do convidado.
Respiro contra o silêncio
que subjaz.
E meu sussurro faz estremecer
o fragilíssimo crepúsculo
dos nãos.
Meditação com rasuras - extraído de AMÁLGAMA, de Roberval Pereyr (Coleção
Selo Editorial Letras da Bahia, 1995)
Cirandeira,
ResponderExcluirMuito boa a sua iniciativa de trazer para nosso conhecimento poetas talentosos, como o Roberval Pereyr.
Permito-me comentar (embora não seja especialista em poesia, e tão-somente um apreciador) que pelo jeito o Roberval é um mestre nas metáforas para:
(a) esconder os fatos ("não conheço o justo"; "não recebi o anel"; "me pedirão que recite algum segredo?"; "não fui sequer o irmão do convidado");
(b)confessar seu desencanto com os fatos escondidos e o sofrimento que estes lhe trazem ("nenhuma luz"; "estudo a língua das traças"; "dor no dente cariado"; "crepúsculo dos nãos" ).
Estabelecidos os objetivos do autor, não resta dúvida de que se trata de uma construção competente, de muito ritmo e beleza.
Que deixa a gente enternecida e solidária, sem saber exatamente por quê.
Valeu, Cirandeira!