A diversidade tecnológica quer significar diversidade democrática. A tecnologia põe a imagem, a palavra e a música ao alcance de todos, como nunca antes ocorrera na história humana, mas essa maravilha pode se transformar num logro para incautos
se o monopólio privado acabar impondo a ditadura da imagem única e da música única. Ressalvadas as exceções, que afortunadamente, existem e não são poucas, essa pluralidade tende, em regra, a nos oferecer milhares de possibilidades de escolher entre o mesmo e o mesmo. Como diz o jornalista argentino Ezequiel Fernandez-Moore, a propósito da informação: "Estamos informados de tudo, mas não sabemos de nada".
Voo e vertigem da tecnologia da comunicação, que parece bruxaria: à meia noite, um computador beija a testa de Bil Gates, que de manhã desperta transformado no homem mais rico do mundo. Já está no mercado o primeiro microfone incorporado ao computador, para que se converse com ele.
No ciberespaço, Cidade Celestial, celebra-se o matrimônio do computador com o telefone e a televisão, convidando-se a humanidade para o batismo de seus filhos assombrosos.
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Encélado, uma das luas geladas de Saturno
Ao redor da Terra gira um anel de satélites cheios de milhões e milhões de palavras e imagens, que da Terra vêm e à Terra voltam. Prodigiosas engenhocas do tamanho de uma unha recebem, processam e emitem, na velocidade da luz, mensagens que há meio século exigiriam 30 toneladas de maquinaria. Milagres da tecnociência nestes tecnotempos: os mais afortunados membros da sociedade midiática podem desfrutar suas férias atendendo o telefone celular, recebendo e-mail, respondendo ao bipe, lendo faxes, transferindo chamadas do receptor automático, fazendo compras pelo computador e preenchendo o ócio com os videogames e o telefone portátil.
No século XVI, alguns teólogos da igreja católica legitimavam a conquista da América em nome do direito da comunicação: "Jus communications" - os conquistadores falavam, os índios escutavam. A guerra era inevitável justamente quando os índios se faziam de surdos. Seu direito de comunicação consistia no direito de obedecer. No final do século XX, aquela violação da América ainda se chama encontro de culturas, enquanto continua se chamando comunicação o monólogo do poder.
"Torre de Babel", de Pietr Bruegel
Trechos extraído do livro "De pernas pro ar", de Eduardo Galeano