Longa é a relação de ódio e amor entre a mulher e a serpente, desde os tempos bíblicos, quando as pessoas separavam os mares com uma espécie de vareta mágica. Arqui-inimigas, incendiadas entre os objetos como desejo e descendência.
Insípido e pleno de vontades absolutamente naturais, o macho não se presta a estas pequenas contendas.
Mas no meio do paraíso irremediável, Eva Maria esmagou a cabeça da serpente. Para que o movimento de sua língua não mais lhe deixasse predisposta ao conhecimento, para que a cobra não lhe desse mais prazer e para que a mulher não se apartasse mais do homem.
Afinal, depois de andar sobre as águas, ascender aos céus e multiplicar os pães, o próximo passo seria ser promovida e transformar água em vinho, esses milagres da culinária moderna.
Extraído de "Métodos extremos de sobrevivência", da escritora, jornalista e atriz, Márcia Bechara, natural de Belo Horizonte e radicada em São Paulo. É autora também de "Alegorias para Dinorah" e "Casa das Feras".
Também gostei muito de "andar" por aqui.
ResponderExcluirTexto com final divertido, surpreendente.
ResponderExcluirE pensar que em tantas religiões a serpente é um símbolo do bem, da sabedoria, da criação, etc...
Uma linda semana pra ti!
ResponderExcluirBeijos!
Genial e deliciosamente místico... ;)
ResponderExcluirCirandeira, ainda bem que tivemos uma Eva Maria, pronta a transformar tudo em outra coisa. Adorei.
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