DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

11/03/2010

A lenda de Fausto

Ilustr. de Retzsch p/a Segunda Parte de "Fausto"

Sublime Gênio, tens-me dado tudo,
Tudo o que eu te pedí. Não me mostraste
Em vão, dentro do fogo, o teu semblante,
Por reino deste-me a infinita Natureza,
E forças por sentí-la, penetrá-la.
Não me outorgaste só contato estranho e frio,
Deixaste-me sondar-lhe o fundo seio,
Como se fosse o peito de um amigo.
Expões-me a multidão dos seres vivos,
E a conhecer, na plácida silveira,
Nos ares, na água, os meus irmãos ensinas.
E quando o furacão no mato ruge,
Desmoronando-se, o gigante pinho
Vizinhos troncos e hastes espedaça,
E, troando, o morro a queda lhe acompanha;
Então me levas à tranquila gruta,
Revelas-me a mim mesmo, e misteriosos
Prodígios se abrem dentro do meu peito.
E, suavizante, ala-se-me ante o olhar
A lua límpida: flutuantes surgem
Das rochas úmidas, do argênteo bosque,
Alvas visões de antanho, a mitigar
O prazer austero da contemplação.
("Floresta e Gruta")

Da sabedoria é conclusão superior:
Faz jus à liberdade e à sua existência
só quem diariamente a conquistar com destemor.
Cercado de perigos é assim a vivência
Dessas crianças, adultos e velhos a se agitar.
Gostaria eu de tal multidão vislumbrar
E conviver com homens livres em terra livre
Para poder dizer ao momento fugaz:
Continua aqui. És belo! Não te vás!
Os vestígios de meus dias, na Terra passados,
Nem em milênios poderão ser apagados.

Georg Faust, ilustração de Rembrandt

A figura lendária de Fausto aparece no século XVI. As informações são escassas, incompletas e controvertidas. O local de seu nascimento é atribuído a Knittlingen,(Alemanha), onde se encontra o Faust-Museum. Também a data de seu nascimento é controvertida, pois há fontes que afirmam ter acontecido em 1466, outras em 1478 ou em 1480, 1481. Entretanto, há um consenso de que Fausto teria estudado alquimia, astrologia, magia e vidência. Seu desejo maior teria sido abarcar todos os conhecimentos de sua época, invocando Mefistófeles (o demônio ou "o inimigo da luz"), com quem negocia para viver vinte e quatro anos sem envelhecer. Durante esse período, o diabo serviria a Fausto, recebendo sua alma em troca. Ao final desse vinte e quatro anos, seria então levado para o inferno. Mas nesse intervalo de anos, surge, inesperadamente, a figura de Margarida, por quem se apaixona e a quem recorre para salvá-lo do contrato que foi assinado com seu próprio sangue. Seu destino porém, já estava traçado inevitavelmente.
A lenda de Fausto é considerada um arquétipo (um modelo, um exemplo)da alma humana, tendo despertado interesses de artistas, músicos, poetas, dramaturgos.
Em 1587, Johan Spiess, livreiro e escritor de Frankfurt am Mein, faz a primeira narrativa literária dessa personagem no "Livro Popular", onde o indivíduo está disposto a aliar-se a Mefistófeles para "especular os elementos...dia e noite, pretendendo descobrir os fundamentos de tudo, tanto no céu quanto na terra." Em 1589 o escritor e dramaturgo inglês Christopher Marlowe(1563-1593), apresenta numa peça teatral ("História trágica do Doutor Fausto") o dilema do novo homem ocidental, dividido entre a religiosidade medieval e o humanismo renascentista. A personagem torna-se desse modo uma figura recorrente no decorrer de cinco séculos da literatura ocidental. Contudo, a expressão máxima dessa personalidade tão controvertida é-nos apresentada pelo poeta Johan Wolfgang Goethe (1749-1832), através de sua obra-prima "Fausto", que se estende por 12.111 versos, que no dizer de Erwin Theodor, nos apresenta "as principais conquistas intelectuais, realizadas na Antiguidade, Idade Média e Renascimento".

Fotos e fonte de pesquisa - wikimedia - "Fausto" - tradução de Jenny Klabin Segall (1981)

3 comentários:

  1. Linda a lenda de Fausto!
    Gostei do novo Layout!
    Beijos!

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  2. muy bueno tu texto. gracias por compartirlo.
    besos.

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  3. "Os vestígios de meus dias, na Terra passados,
    Nem em milênios poderão ser apagados".

    De uma maneira ou de outra, deixamos sim, vestígios que não se apagam.

    Bom domingo, Cirandeira! Beijo.

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