Desenho de Ana Hatherly
O poema é solitário
Paul Célan
O pequeno gesto de um poema
pode abrir uma perspectiva infinita?
Quantas vezes será preciso
bater com a cabeça
para vislumbrar a graça original?
Tudo o que podemos não podemos
Tudo o que fazemos não o fazemos sós
A palavra é um duro muro:
não se move a suplicantes rogos
O poema isola o poeta
afirma-se à margem de si próprio
***
Os poemas são uma peregrinação
uma crença
que impele o poeta ao corpo a corpo
com o abismo que o cerca
A batalha é infinita
assenta no interesse do acaso
do ocaso
dos infinitos mortos
em cujos ombros subimos
incansáveis
Qual é o prazer do caminhante
senão
o de encontrar a invisível ponte
a ambição de ousar?
A nostalgia é um erro da paixão
O poema é um rio de vozes (grifo meu)
Ana Hatherly, Porto (1929- ), em O pavão negro, 2003.
Ci, que coisa mais linda é essa? "Os poemas são uma eregrinaçãouma crença que impele o poeta ao corpo a corpo com o abismo que o cerca"...Nooosaa!!! E à pergunta inicial do poema respondo SIM. Uma perspectiva infinita...eu sei e sinto.
ResponderExcluirAh, obrigada, obrigada por isso.
Beijos,
Essa foi uma das raras pérolas que encontrei há pouco tempo e que deixou-se assim, meio encantada :) O que ela escreve tem muito a ver com "O Ofício do
ExcluirPoeta", de Canetti, não achas?
Pretendo postar mais por aqui(e no 'Mínimo'): verso e prosa. Acho-a completa, como artista: poeta, escritora, artista plástica e cineasta! E tem apenas setenta e três anos, não é
o máximo?
beijos, Tânia
LETRAS INMENSAMENTE PROFUNDAS.
ResponderExcluirUN ABRAZO