A Rendeira
Na teia da manhã que se desvela
a rendeira compõe seu labirinto,
movendo sem saber e por instinto
a rede dos instantes numa tela
Ponto a ponto, paciente, tenta ela
traçar no branco linho mais distinto
a trama de um desenho tão sucinto
como a jornada humana se revela.
Em frente, o mar desfia a eternidade
noutra tela de espuma e esquecimento
enquanto, estrelaçado, o pensamento
costura sobre o sonho a realidade.
Em que perdida tela mais extrema
foi tecida a rendeira e este poema?
A Velha
Esculpida em silêncio
sentada e sábia,
fita o horizonte da mágoa.
Ao seu lado,
o mar murmura
as sílabas do ocaso.
Ó beleza antiga e súbita:
sobre o seu ombro
o instante se debruça
iluminado.
Dois poemas de Adriano Espínola, poeta nascido em Fortaleza (CE) em 1952. É professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Ceará. Possui vários livros publicados, entre eles. "Beira-Sol" e "Artes de Enganar: Um estudo das máscaras poéticas e biográficas de..."
Oi Cirandeira, a gente sempre encontra coisa boa por aqui. Conheço o poeta, li de Adriano Espínola "Beira-Sol", de que gostei.
ResponderExcluir"Ó beleza antiga e súbita:
sobre o seu ombro
o instante se debruça
iluminado"
é uma beleza.
"Em que perdida tela mais extrema
ResponderExcluirfoi tecida a rendeira e este poema?"
Como isso é lindo, Cirandeira. Como é forte a imagem da rendeira. E doce...
Beijos.
Os poemas são bem bons.
ResponderExcluirA arte dessas mulheres...
não lhes fica atrás...
Cumprimentos meus
Olááá!!!!
ResponderExcluirMuito legal o post! As rendeiras são uma parte importante da cultura de resistência do nordeste, assim como os escultores de panela de barro, os cantadores de reis, enfim... Mais uma vez de parabéns!
Bjão!