DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

02/07/2013

" A Velha " e " A Rendeira" (reedição)




A Rendeira
 
Na teia da manhã que se desvela
a rendeira compõe seu labirinto,
movendo sem saber e por instinto
a rede dos instantes numa tela
Ponto a ponto, paciente, tenta ela
traçar no branco linho mais distinto
a trama de um desenho tão sucinto
como a jornada humana se revela.
 
Em frente, o mar desfia a eternidade
noutra tela de espuma e esquecimento
enquanto, estrelaçado, o pensamento
costura sobre o sonho a realidade.
 
Em que perdida tela mais extrema
foi tecida a rendeira e este poema?

 
A Velha
 
Esculpida em silêncio
sentada e sábia,
fita o horizonte da mágoa.
 
Ao seu lado,
o mar murmura
as sílabas do ocaso.
 
Ó beleza antiga e súbita:
sobre o seu ombro
o instante se debruça
iluminado.


Dois poemas de Adriano Espínola, poeta nascido em Fortaleza (CE) em 1952. É professor de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Ceará. Possui vários livros publicados, entre eles. "Beira-Sol" e "Artes de Enganar: Um estudo das máscaras poéticas e biográficas de..."

4 comentários:

  1. Oi Cirandeira, a gente sempre encontra coisa boa por aqui. Conheço o poeta, li de Adriano Espínola "Beira-Sol", de que gostei.
    "Ó beleza antiga e súbita:
    sobre o seu ombro
    o instante se debruça
    iluminado"
    é uma beleza.

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  2. "Em que perdida tela mais extrema
    foi tecida a rendeira e este poema?"

    Como isso é lindo, Cirandeira. Como é forte a imagem da rendeira. E doce...

    Beijos.

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  3. Os poemas são bem bons.

    A arte dessas mulheres...

    não lhes fica atrás...

    Cumprimentos meus

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  4. Olááá!!!!
    Muito legal o post! As rendeiras são uma parte importante da cultura de resistência do nordeste, assim como os escultores de panela de barro, os cantadores de reis, enfim... Mais uma vez de parabéns!
    Bjão!

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