DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

07/01/2014

Em auxílio das frases feitas



Existem lugares que ao chegarmos pela primeira vez temos a nítida sensação de já conhecê-los,  o mesmo acontece com determinadas pessoas: é cruzarmos o olhar e já nos conhecíamos desde sempre, não sabemos exatamente o porquê. E existem também  alguns escritores que  nos dão aquela sensação de terem tomado a nossa mão e escrito por nós, de tão familiares, de expressarem o que sentimos e pensamos. Julio Cortázar  é um desses autores com quem me identifico,  pela forma como escreve, como se estivesse conversando com a gente,  seu texto flui com uma naturalidade ao mesmo tempo que nos  mostra com maturidade e bom humor coisas aparentemente banais. Tenho-o sempre por perto, e cada vez que o relei-o é como se fosse a primeira vez, porque há sempre algo de novo que não havia percebido na vez anterior. Assim são os bons escritores, são inesgotáveis!


Dito tudo
não resta
evidentemente
nada a dizer

*

Dito tudo,
mas o quê?
Para saber
seria preciso situar-se
atrás do poema,
no não escrito,
coisa meio difícil.

*

Afinal de tudo
não resta nada.

*

Passando de uma coisa a outra,
outra coisa é brilhantina,
único fabricante Brancato.

*

Pensando bem,
não seria necessário
dizer o que disse antes, não é?

*

Desculpe, mas...
Quase sempre prelúdio
de algo indesculpável.

*

Sinto muito, mas...
Vamos, vamos.

 Papéis Inesperados, publicado em 2009, vinte e cinco anos após a morte de Julio Cortázar, é uma coletânea de textos inéditos e dispersos, escritos pelo autor ao longo de sua vida.

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