DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

18/06/2015

Assimetrias


Antônio da Costa
 
 

O dia escorre vertical pelo canto do olho. Solene impõe-se insolentemente sobre tua vida, esmagando e sufocando teus desejos... Não vale nada o que desejas, pouco importa. A vida seguirá em frente afogando-os. Somos feitos pra acabar no mar sem fim desta vida que continuará para aqueles que aqui ficarem.
Adentro a noite escura, sinto o cheiro úmido da terra, seu aroma de verde, de folhas orvalhadas caídas das árvores. Não vejo nada, sou apenas o sentir na pele do meu corpo, o cheiro forte de mato e de terra e de vida na noite escura dos mares bravios do viver.
"Um olho vê, o outro sente", disse Paul Klee, e quando o outro não vê, o olho sente ainda mais. Mergulhar no escuro é cair em si mesma, um pleonasmo existencial, se é que me faço entender, porque ao cair surpreendi-me também, eu.
 Pelo canto do olho escorre um fio de olho d'água vertical, vertiginoso, lâmina cortante que abre uma janela para o sol.


***


Le jour court verticalement à partir du coin de l'oeil. Solemne s'impose insolemment sur votre vie, broyant et étouffant vos désirs. Ne vaut rien ce que vous voulez, il n'a pas d'importance. La vie va aller de l'avant. Nous sommes faits pour finir dans la mer de cette vie que continuera pour ceux qui restent ici.
A l'interieur de la nuit noire je sens l'odeur du vert, les feuilles tombent rosée. Je ne vois rien, je me sens la peau de mon corps, la fort odeur de l'herbe et de la terre et de la vie dans la nuit sombre, de la mer agitée, de la vie.
"Um oeil voit, l'autre ressente", a declaré Paul Klee, et quand l'autre ne voit pas l'oeil encore plus ressente. Plonger dans l'obscurité est tomber em soi même, superflue existentielle, si vous savez ce que je comprends, parce que quand je me suis tombée la chute était une surprise pour moi aussi...
Dans le coin de l'oeil s'ecoue um oeil-fleuve d'eau verticale, lame raide fort que ouvre une fenêtre au soleil.

Um comentário:

  1. La vida corre deprisa por el rabillo del ojo. Nuestros deseos se quedan atrás. Hay como un rtmo marcado que nos hace seguir adelante, aunque no sepamo muy bien por qué ni a dónde vamos.

    Por el rabillo del ojo se desaguan nuestros ríos desbordados, a veces empujados por la pena, otras por la emoción.

    Un ojo ve y el otro siente. Me gusta la función de esta asimetría.

    Hermoso texto, Cirandella. Abramos una ventana a la esperanza.

    Un beso,

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