[... ] O homem gosta de criar e de abrir caminhos, isto é indiscutível. Mas por que ele também ama com paixão a destruição e o caos? Digam-me, por favor! [...] Talvez ele ame o edifício apenas de longe e não o ame de perto; talvez ele ame somente o ato de construí-lo, e não viver nele, abandonando-o depois aos animaux domestiques, como formigas, carneiros, etc. Vejam como as formigas têm um gosto completamente diferente. Elas têm edifícios extraordinários, indestrutíveis por séculos: os formigueiros.
As veneráveis formigas começaram com um formigueiro e terminarão provavelmente, também, com um formigueiro, o que muito honra sua constância e sua natureza positiva. Mas o homem é um ser inconstante e pouco honesto e, talvez, à semelhança do jogador de xadrez, goste apenas do processo de procurar atingir um objetivo, e não do objetivo em si. E quem sabe? Não se pode garantir, mas talvez todo o objetivo a que o homem se dirige na Terra se resuma a esse processo constante de buscar conquistar ou, em outras palavras, à própria vida, e não ao objetivo em si, o qual, evidentemente, não deve passar de dois e dois são quatro, ou seja, uma fórmula, e dois e dois são quatro já não é vida, senhores, é o começo da morte. [......] Suponhamos que o homem não faça outra coisa além de procurar esse dois e dois são quatro, atravessando oceanos, sacrificando a vida nessa busca, mas sou capaz de jurar que ele tem medo de encontrá-lo realmente. Porque ele sente que assim que o encontrar, não haverá mais nada para procurar.
Fiodor Dostoievski, em Notas do subsolo
MAGISTRAL PLANTEAMIENTO Y GRANDE REFLEXIÓN.
ResponderExcluirABRAZOS
A maestria de um grande autor estancada num pequeno fragmento muito bem selecionado.
ResponderExcluirBeijos.