DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

10/08/2009

Viagem até a Noite

"Le mal du pays" - René Magritte



Como uma mãe sustentada por galhos fluviais


de espanto e de luz de origem


Como um cavalo esquelético,


radiante de luz crepuscular


Atrás a ramagem densa de árvores


e árvores de angústia


Cheio de sol o caminho de estrelas marinhas


o estoque fulgurante de dados perdidos


na noite cabal do passado


Como um ofegar eterno se sai à noite


Ao vento tranquilo passam os javalis,


as hienas fartas de rapina


Rompido ao largo o espetáculo mostra


faces sangrentas de eclipse lunar


O corpo em labareda oscila pelo tempo


sem espaço cambiante pois o eterno


é o imóvel e todas as pedras arrojadas


ao vendaval aos quatro pontos cardeais


voltam como pássaros solitários


devorando lagoas de anos derruídos


Insondáveis teias de aranha de tempo


caído e lenhoso


Vacuidades enferrujadas no silêncio piramidal


Morticínio pestanejante esplendor


para dizer-me que ainda vivo


respondendo por cada poro de meu corpo


ao poderio de teu nome, oh poesia !






César Moro, pseudônimo de Alfredo Quispez Asin, poeta e pintor peruano, nascido em Lima. Participou ao lado de André Breton do movimento surrealista em Paris e é considerado um dos principais representantes do surrealismo hispano-americano (1903-1956)

2 comentários:

  1. Surrealista, mesmo!

    É um género que pode levar muito longe,

    no que o poeta pretende do leitor

    e do que o leitor imagina do autor.

    Saudações

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  2. Super hiper surrealista. Gostei.
    Gosto desse gênero na música e na literatura.
    Você agora esté em pleno vapor heim?
    Mas... a pintura deu bem para o poema, elas se completaram.
    Beijo

    Ps: tenho novidades para vc, a respeito do seu cabeçalho. Quer?

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