Van Gogh
Ponho palavras em cima da mesa; e deixo
que se sirvam delas, que as partam em fatias, sílaba a
sílaba, para as levarem à boca - onde as palavras se
voltam a colar, para caírem sobre a mesa.
Assim, conversamos uns com os outros. Trocamos palavras;
Assim, conversamos uns com os outros. Trocamos palavras;
e roubamos outras palavras, quando não as temos;
e damos palavras, quando sabemos que estão
a mais. Em todas as conversas sobram as palavras.
Mas há palavras que ficam sobre a mesa, quando
Mas há palavras que ficam sobre a mesa, quando
nos vamos embora. Ficam frias, com a noite; se uma janela
se abre, o vento sopra-as para o chão.
No dia seguinte,
a mulher a dias há de varrê-las para o lixo.
Por isso, quando me vou embora, verifico se ficaram
Por isso, quando me vou embora, verifico se ficaram
palavras sobre a mesa; e meto-as no bolso, sem ninguém
dar por isso. Depois, guardo-as na gaveta do poema. Algum
dia, estas palavras hão-de servir para alguma coisa.
Em As coisas mais simples, - Ed. Dom Quixote, Lisboa - 2007
Em As coisas mais simples, - Ed. Dom Quixote, Lisboa - 2007
Que hermoso poema, ahora me fijaré más antes de acabar cualquier conversación si hay por ahí alguna palabra suelta, y las iré guardando en una caja para esos días en los que me quedo sin palabras.
ResponderExcluirUn abrazo,
bello texto donde el verso da paso al sentir del escritor , desde mi blog de horas rotas saludos cirandeira. j.r.
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