Guimarães Rosa entre sertanejos, 1952
Em um dos prefácios de Tutameia, último livro que G.Rosa escreveu, logo de cara somos impactados(as)com o título: Aletria e hermenêutica. Segundo ele, "a estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, às vezes, quer-se um pouco parecida à anedota". Após discorrer um pouco sobre o tema, Rosa nos apresenta uma pequena antologia do anedotário popular dignos de nota, como os exemplos que se seguem:
Siga-se, para ver, o conhecidíssimo figurante, que anda pela rua empurrando sua carrocinha de pão, quando alguém lhe grita: - "Manuel, corre a Niterói, tua mulher está feito louca, tua casa está pegando fogo!..." Larga o herói a carrocinha, corre, voa, vai,
toma a barca, atravessa a Baía quase...e exclama:
- "Que diabo! eu não me chamo Manuel, não moro em Niterói, não sou casado e não tenho casa..."
De natureza análoga, nos apresenta aquela do cidadão que viajava de bonde, sendo o único passageiro, num dia de chuva, e, como estivesse sentado debaixo de uma goteira, perguntou-lhe o condutor por que não trocava de lugar. Ao que ele respondeu: - "Trocar...com quem?"
- "O açúcar é um pozinho branco, que dá muito muito mau gosto ao café, quando não se lho põe..."
"Sobre uma escada um dia eu vi
Um homem que não estava ali;
Hoje não estava à mesma hora.
Tomara que ele vá embora."
"O O é um buraco não esburacado.
O avestruz é uma girafa; só o que tem é que é um passarinho.
Haja a barriga sem o rei. (Isto é: o homem sem algum rei na barriga.)
Se o tolo admite, seja nem que um instante, que é nele mesmo que está o que não o deixa entender, já começou a melhorar em argúcia."
João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo(MG) em 1908 faleceu em 1967.
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