peixe fresco
corda
alcatrão
e a lembrança de velhos poderes imperiais no Canal
O nosso foi um fogo que queimou sem nos queimar
morreu na praia
estátuas silenciosas de sal
virávamos páginas em branco
a velha pergunta transbordando sempre
de cada livro no alto da biblioteca de alto preço
de cada escultura construída no além-mar
O mau fado me deixou a ver navios
ressaca impronunciável e alheia
falsas falésias
falácias
enseada escura
e canoa furada
Sou
verso ou reverso
par ou ímpar
yin ou yang
prosa ou verso
sim ou não
nunca um talvez
Encontro
poço turvo, escuro
negro espaço em que me recolhi
sem me dar conta jamais
Estranha, absurda caverna
fui, sou, serei sempre
sua mais fiel, eterna
residente
[Sem título]
Transitoriedade da alma
o que isso significa? Não sei,
deve ser que ela está aqui de passagem.
Só pode. Faz sentido.
Tem gente que vem a trabalho,
eu vim a passeio - e não gostei -
o resplandecer da alma é efêmero.
Hilda Machado fez mestrado em Artes(USP), doutorado em História Social pela Universidade Federal Fluminense e professora nessa mesma Universidade; estudou direção de cinema em Cuba, atuando posteriormente como pesquisadora em várias universidades do Brasil e do exterior; recebeu o prêmio de melhor direção nos festivais de cinema de Gramado(RS), Recife e Rio de Janeiro em 1987 pelo curta-metragem Joilson marcou. Os poemas apresentados acima, foram extraídos do livro Nuvens
organizado pela autora e datado de julho de 1997, publicado somente agora, em 2018.
Hilda Machado faleceu em São Paulo, 2007.
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