DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

29/01/2020

O artista e a arte da relojoaria




Nunca, com certeza, desde que o mundo é mundo, (estou falando do mundo sensível, tal como nos é dado a cada dia), não, nunca, seja qual for a mitologia na moda, nunca o mundo, nem por um segundo, suspendeu o seu funcionamento misterioso.
E no entanto, nunca no espírito do homem - e precisamente desde que o homem parou de considerar o mundo unicamente como o campo de sua ação, o lugar e a ocasião de seu poder - nunca o
mundo, no espírito do homem, funcionou tão pouco, tão mal.
Ele já não funciona mais a não ser para alguns artistas. Se ele ainda funciona, é graças a eles.
[...] A função do artista é assim bastante clara: ele deve abrir um ateliê e tratar de consertar o mundo, por fragmentos, como ele aparece. Não porque se toma por um mago. Mas por um relojoeiro. Reparador atento da lagosta e do limão, da colmeia ou da compoteira, aí está o artista moderno. Insubstituível em sua função. Seu papel é modesto, como se pode ver. Mas dele não se poderia abrir mão.

Francis Ponge, Monpellier(França) 1899-1988

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