DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

18/10/2021

História de onça

 



Era uma vez uma onça! Era o que se dizia antigamente quando alguma coisa não terminava satisfatoriamente. Pois bem, a onça que anda circulando por aí, dizem, é pintada e pinta sua boca. Dentro dela existe um céu cheio de estrelas dentadas, que espalham pigmentos sobre o seu corpo; tais pigmentos se transformam em pigmeus pigmaliônicos, primos dos tigres, das jaguatiricas e até dos leões, quem sabe...? Os habitantes deste céu de boca, não se comunicam com o mundo externo, vivem numa espécie de bolha; tudo que aprendem é transmitido por um espelho que reflete imagens distorcidas, através de discursos. Todos os dias a onça abre sua boca pintada,  atrás de uma cortina (para que entre um pouco de luz) e vocifera grunhidos que são aplaudidos pela fauna que a rodeia. Tal expediente, costuma acontecer ao amanhecer e termina ao cair a noite, quando então, surge o rosto azul do mar, mesclado de estrelas.

Seria, por acaso, o corpo de um céu estrelado numa noite escura? Ou seria mesmo o céu da boca de uma onça pintada, cheia de dentes afiados, pronta para nos engolir? Em situações adversas corre-se o risco de ter alucinações. Que não me venham com paralelepípedos polidos para "urbanizar" as ruas da linguagem imaginária...!

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