Mar
Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois ela é pela inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia,
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão,
Entontecida.
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral,
Fazes soar a tua dor pelas alturas,
E se antes de tudo odeio e fujo
Do que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.
Inscrição
Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto do mar.
Este é o tempo
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite
Densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam.
Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu na cidade do Porto (Portugal) - 1919-2004.
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