DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

05/07/2009

Os sapos


Enfunando os papos,
saem da penumbra,
aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi " - "Foi!" - "Não foi!"
O sapo-tanoeiro,
parnasiano aguado,
Diz: "Meu cancioneiro
é bem martelado.
Vêde como primo
em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
os termos cognatos.
O meu verso é bom
frumento sem joio.
Faço rimas com
consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
a forma e a forma.
Clame a saparia
em críticas:
Não há mais poesia,
mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" "Foi !"
- "Não foi !" - "Foi!" "Não foi!"
Brada em um assomo
o sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
tudo quanto é vário,
canta no martelo."
Outros sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - Sei!"
Longe dessa grita,
lá onde mais densa
a noite infinita
verte a sombra imensa;
lá, fugido ao mundo,
sem glória, sem fé,
no perau profundo
e solitário, é
que soluças tu,
tremendo de frio,
sapo cururu
da beira do rio...
Manuel Bandeira, poeta pernambucano de Recife (1886-1968)

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