DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

18/11/2009

Arte Afro-Brasileira II - um pintor e um poeta

"Retrato de Mulher", de Benedito José Tobias( 1894-1963)
Solano Trindade(ao centro), em Embu(SP) - 1969

Eita negro!

Quem foi que disse que a gente

não é gente?

Quem foi esse demente,

se tem olhos não vê...

Que foi que fizeste mano,

pra tanto falar assim?

- Plantei nos canaviais do nordeste

- E tu mano, o que fizeste?

- Eu pantei algodão nos campos do sul

pros homens de sangue azul,

que pagavam o meu trabalho

com surra de cipó-pau

- Basta mano, pra eu não chorar

- E tu Ana, conta-me tua vida

na senzala, no terreiro

- Eu...

cantei embolada pra sinhá dormir,

fiz tranças nela, pra sinhá sair...


Francisco Solano Trindade, nasceu em Recife(PE), em 1908. Poeta, folclorista, teatrólogo e pintor. Faleceu no Rio de Janeiro em 1974

3 comentários:

  1. O misto da dor,o labor e o prazer dos escravos.

    Belísismo!


    Abs!

    Carol Sakurá

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  2. oi ,

    Linda homenagem!
    Raiz da gente nessa gente semente.
    Arte e versos fortes.Tocantes.

    Com carinho,

    Cris

    Apareça.

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  3. Olá, Cirandeira, quando vim seguir teu blog, o fiz para não perdê-la de vista. Porém hoje voltei para ver as ótimas postagens – com calma - e parei nesse poema forte, que em poucas palavras narra o sofrimento negro. Ao lê-lo, a emoção foi tomando corpo... Como puderam escravizar essa gente em seu próprio país e trazê-los para um trabalho escravo... Por essas e outras é que custo a acreditar, totalmente, no ser humano. Sou uma descrente.

    Bjs, estarei por aqui.
    Tais luso

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