Toda a gente diante da vitória-régia fica atraído, como Saint-Hilaire ou Martius,
ante o Brasil. Mas vão pegar a flor pra ver o que sucede! O caule e as sépalas, escondidos na água, espinham dolorosamente. A mão da gente se fere e escorre sangue. O perfume suavíssimo que encantava de longe, de perto dá náusea, é enjoativo como o que. E a flor, envelhecendo depressa, na tarde abre as pétalas centrais e deixa ver no fundo um bandinho nojento de besouros, cor de rio do Brasil, pardavascos, besuntados de pólen. Mistura de mistérios, dualidade interrogativa de coisas sublimes e coisas medonhas, grandeza aparente, dificuldade enorme, o melhor e o pior ao mesmo tempo, calma tristonha, ofensiva, é impossível a gente ignorar que a nação representa essa flor...
Mário de Andrade (1893-1945) - Crônica publicada no "Diário Nacional", de 07/01/1930- São Paulo, Duas Cidades - 1976
Encantador!
ResponderExcluirAdoro o realismo de Mário de Andrade!
Abs!
Carol Sakurá
Nossa, que texto incrível! Não conhecia. Também não conheço de perto a vitória-régia. Imensa e bela, sublime e assustadora - dual, como a Nação que representa.
ResponderExcluirBeijo, Cirandeira!