Toda a gente diante da vitória-régia fica atraído, como Saint-Hilaire ou von Martius, ante o Brasil. Mas vão pegar a flor pra ver o que sucede! O caule e as sépalas, escondidos na água, espinham dolorosamente. A mão da gente se fere e escorre sangue. O perfume suavíssimo que encantava de longe, de perto dá náusea, é enjoativo como o que. E a flor envelhecendo depressa, na tarde abre as pétalas centrais e deixa ver no fundo um bandinho nojento de besouros, cor de rio do Brasil, pardavascos, besuntados de pólen. Mistura de mistérios, dualidade interrogativa de coisas sublimes e coisas medonhas, grandeza aparente, dificuldade enorme, o melhor e o pior ao mesmo tempo, calma tristonha, ofensiva, é impossível a gente ignorar que a nação representa essa flor...
Crônica de Mário de Andrade, (1893-1945), publicada no jornal "Diário Nacional" em 1930.
As coisas nunca são absolutas.
ResponderExcluirO segredo da evolução de um povo passa por tirar partido das suas melhores características. Como o fazer, eis a questão.
Beijo :)
Imponente e só.
ResponderExcluirBelo de admirar e sentir.
BEijo!
Nossa, não sabia disso. Vivendo e aprendendo. Da próxima vez que eu for no Jardim Botânico do RJ vou lembrar de Mário de Andrade. Está tudo aqui arquivado nos labirintos da minha "cachola".
ResponderExcluirAdoro a lenda da Vitória Régia...
ResponderExcluirque é praticamente a mesma da flor de Lótus...
as flores que brotam da escuridão...
do lodo...
Beijos
Leca
Mário de Andrade sabia do que estava falando.
ResponderExcluirFoi um pesquisador incansável das coisas do
nosso país, viajou muito e conheceu de perto
os usos, os costumes e a música brasileira.Não
se deixava levar pelas aparências, que, na maioria das vezes, ocultam o que é de fato importante...!
Ora, vejam só! Vitória-régia como símbolo das nossas dualidades e contradições. Se é assim, cabe perfeitamente.
ResponderExcluirBeijo.