DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

24/09/2010

A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma


Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o "silêncio obsequioso" pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a Editora Vozes a publicar corajosamente o "Brasil Nunca Mais!," onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime militar.

Esta história de vida, me avaliza para fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a mídia comercial, que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade de imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa, que na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como "famiglia" mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo o Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de O Globo, da Folha de São Paulo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico, assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem do povo. Mais que informar e fornecer material para a discussão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas, não têm o mínimo respeito devido à mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

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Quando Lula afirmou que "a opinião pública somos nós", frase tão distorcida por essa mídia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da mídia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palavra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo, cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no governo, operou uma revolução conceitual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa se fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, enfim, a melhorar a vida.

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O que está em jogo neste enfrentamento entre a mídia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocolonial, neoglobalizado e no fundo, retrógrado e velhista, ou o Brasil novo, com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que nunca tínhamos visto antes?

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito da má vontade deste setor endurecido da mídia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construído com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.



Leonardo Boff , teólogo, escritor e representante da Iniciativa Internacional da Carta da Terra.

10 comentários:

  1. Ainda e sempre a questão do poder, um tema que deveria ser incontornável para todos, pois é a vida das pessoas que está em causa. No Brasil, em Portugal ou em qualquer parte do planeta.

    Beijo :)

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  2. É verdade, AC, a questão do poder é muito séria
    desde sempre e como é a vida das pessoas que está em causa (e eu me incluo entre essas pessoas), temos que estar atentos diuturnamente, sob pena de ficarmos sob a tutela de uma classe que deseja permanecer para sempre no poder!

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  3. Perfeito. Na verdade, parece que estamos diante de um cenário inédito neste país. Que a candidata do governo venha a ganhar no 1º turno, a despeito de toda essa campanha contra, e como continuidade de dois mandatos anteriores, é algo que merecia uma análise profunda. O que é isso? Uma milagrosa transferência de votos por parte da figura carismática, populista do presidente? Não, claro que não é tão simples. É algo mais profundo e que deixa muita gente perplexa!

    Beijo.

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  4. Não está havendo nenhum abuso na liberdade de imprensa. É importante que o povo brasileiro saiba e tome conhecimento acerca das negociatas, das falcatruas, dos tráficos de influência, das picaretagens que ocorrem no governo federal mesmo que essas denúncias sejam feitas antes das eleições. Muito embora, como disse ontem Luiz Fernando Veríssimo, no Brasil de hoje de Neymar e do nosso pop presidente, a grande mídia não seja mais formadora de opinião pública, é fundamental que ela tenha liberdade de publicar - de forma responsável - certas denúncias. E mais, se essas denúncias que foram publicadas pela Veja e Folha de S. Paulo fossem completamente incosistentes a ministra Erenice não teria caido e nem o diretor dos Correios. É importante que a sociedade brasileira fique em alerta em relação a propostas de controle da mídia que, por essência, é oligopolista. O controle da mídia deve ser feito exclusivamente por um Judiciário independente e ponto final. Abraços e viva a democracia e a inclusão social, porque não interessa a ninguém que o Brasil seja um pais pobre, miserável e ignorante. Temos sempre de avançar na convergência. Desculpe o discurso político.

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  5. "O barco, neu coração não aguenta tanta tormenta, alegria ! Meu coração não contenta o dia, o marco...Meu coração, o porto não!

    NAVEGAR É PRECISO" !!!

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  6. Marco, essa candidata tem muito mais tempo na campanha eleitoral do que o Serra, por exemplo. E tem o Lula com seus braços de polvo gigante a agarrar tudo e todos para ela.

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  7. Passando para desejar um belo final de semana!

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  8. Helena, o tempo de cada candidato durante o horário de propaganda, no rádio e na televisão é determinado pelo TSE.

    Carol, obrigada.
    Um belo final de semana pra ti também!
    Bj

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  9. Ci, eu sei :)
    E acho bastante complicado porque, de certa forma, o TSE legítima sempre quem tem a maioria no governo, o que dificulta mudanças e impede um fluxo maior de opiniões. E diversidade de opiniões é sempre um ganho e não uma perda, desde que, no final, todos consigam chegar a algum lugar juntos.
    bj.

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  10. Olha só, a propaganda eleitoral é determinada
    por lei, desde 1965(!) e não se trata de "legitimar sempre quem tem maioria no governo" não, Bi... É o seguinte: o tempo de propaganda eleitoral para o cargo de Presidente da República, por exemplo, é de 50min. 1/3 dos 50min(aprox.16min. e meio, é dividido igualmente entre todos os partidos ou coligações que possuam candidato ao cargo; já os 2/3 restantes dos 50min. (aprox.33min e meio), é dividido entre os partidos e coligações que possuam dandidato e representantes junto à Camara dos Deputados de forma proporcional ao número de representantes na Câmara. (www.tse.gov.br)É claro que é importantíssimo haver diversidade de opiniões,de uma forma clara, transparente, sem escamoteações como temos visto na mídia empresarial, que, diga-se de passagem, nunca teve nenhum interesse em esclarecer fatos e muito menos informar a população sobre coisa alguma, muito pelo contrário!

    Bj

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