foto: trekearth
Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?
Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se ao evitar, o não falar,
é forma de falar da coisa.
***
O Poeta
No telefone do poeta
desceram vozes sem cabeça
desceu um susto, desceu o medo
da morte de neve.
O telefone com asas e o poeta
pensando que fosse o avião
que levaria de sua noite furiosa
aquelas máquinas em fuga.
Ora, na sala do poeta o relógio
marcava horas que ninguém vivera.
O telefone, nem mulher nem sobrado,
ao telefone o pássaro-trovão.
Nuvens porém brancas de pássaros
acenderam a noite do poeta
e nos olhos, vistos de fora, do poeta
vão nascer duas flores secas.
João Cabral de Melo Neto, Recife (PE) - 1920-1999
Perfeito, não? Mesmo quando almejamos ser ao máximo objetivos, não nos subtraímos do que dizemos ou vemos. Até porque foi o próprio sujeito humano que inventou a noção de objetividade.
ResponderExcluirBeijo.
hola, te dejo muchos saludos.
ResponderExcluirun abrazo
Genial.
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