" Se o real me incomoda e se desejo livrar-me dele, me desembaraçarei de uma maneira geralmente mais flexível, graças a um modo de recepção do olhar que se situa a meio caminho entre a admissão e a expulsão pura e simples: que não diz sim nem não à coisa percebida, ou melhor, diz a ela ao mesmo tempo sim e não. Sim à coisa percebida, não às consequências que normalmente deveriam resultar dela."
Clément Rosset
Gerard Richter
"O rapaz e o leão pintado" ( fábula de Esopo)
Um ancião timorato tinha um filho único cheio de coragem e apaixonado pela caça: sonhou que este morreria nas garras de um leão. Temendo que o sonho se realizasse, mandou construir um palácio custoso e magnífico para servir de morada ao filho. Para distraí-lo, mandara pintar nas paredes, animais de todo tipo, entre os quais figurava um leão. Mas a visão de todas essas pinturas só fez aumentar o desgosto do rapaz. Um dia, aproximando-se do leão, exclamou: "Fera cruel, foi por sua causa e por causa do sonho mentiroso do meu pai que me trancaram nesta prisão para mulheres." Com estas palavras, bateu com a mão na parede para arrancar o olho do leão. Mas um prego se cravou na sua unha causando-lhe uma dor violenta e uma inflamação que resultou num tumor. A febre que então ardia logo fez com que passasse da vida para a morte. Embora fosse pintado, o leão não deixou de matar o rapaz, para quem o artifício do pai de nada valeu.