A voz de minha bisavó ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas.
Conceição Evaristo é escritora e poeta, nascida em Belo Horizonte(MG).
É formada em Letras pela PUC-RJ, mestra em Literatura Brasileira e doutora em Literatura Comparada. Reside no Rio de Janeiro.
UNA BELLA DEDICATORIA A UNO DE LOS ESTEREOTIPOS MAS HERMOSOS.
ResponderExcluirUN ABRAZO