"Prazeres e dores prendem a alma no corpo como um prego. Tornam-na corporal. Consequentemente é impossível para ela chegar pura nos infernos."
( Platão - 427 a.C - 347 a.C.)
Meu corpo profundo ante a manhã Sol
A vida carnaval...
Amigos
Amores
Risadas
Os piás imigrantes me rodeiam pedindo retratinhos
de artistas de cinema,
desses que vêm nos maços de cigarros.
Me sinto a Assunção de Murillo!
Já estou livre da dor...
Mas todo vibro da alegria de viver.
Eis porque minha alma é impura.
Após escrever esse poema Mário de Andrade teria sido vítima de pilhérias, e para "caçoar" dos que o criticaram, escreveu então esse outro a partir da epígrafe de Platão (acima)
PLATÃO
Platão! Por te seguir como eu quisera
Da alegria e da dor me libertando
Ser puro, igual aos deuses que a Quimera
Andou além da vida arquitetando!
Mas como não gozar alegre quando
Brilha esta alva manhã de primavera
- Mulher sensual que junto a mim passando
Meu desejo de gozos exaspera!
A vida é bela! Inúteis as teorias!
Mil vezes a nudeza em que resplendo
A clâmide da ciência, austera e calma!
E caminho entre aromas e harmonias
Amaldiçoando os sábios, bendizendo
A divina impureza de minha alma.
Mário de Andrade, São Paulo(SP) - 1893-1945
Há quem creia que os trabalhos clássicos, quase renascentistas, que Picasso realizava entremeados na sua produção cubista seriam para "provar" que podia fazê-los se assim quisesse, que tinha competência para tal. Acho que é bobagem isso.
ResponderExcluirMas parece que foi o que Mário de Andrade fez aqui, não é? Como fez também no Prefácio Interessantíssimo: "Por dez anos metrifiquei..." Provou que podia fazer um soneto clássico em decassílabos. Por isso, dá até pra imaginar o Oswald de Andrade censurando essa caçoada que poderia ser uma concessão. Rs.
Poxa, mas me parece que ele "cristianizou" um tanto, talvez via tradução da época, o pensamento de Platão aí, não sei.
Difícil imaginar alguém que estudava tanto, pesquisava imenso e não parava de escrever cartas, curtindo assim a vida adoidado, hehehe... Acho que ele tava mais pra se cobrir com a clâmide da literatura e com a militância cultural. Mas se poeta é fingidor...
Beijo.
Mas não acho que ele "cristianizou"
ResponderExcluirporque acho Platão tão cristão!?
Até rimou sem eu querer e não querendo mesmo :)
Oswald e Mário não se bicavam muito bem, e naquela época as divergências eram mesmo acirradas.
Acho que ele quis mesmo mostrar do que era capaz, e independente de toda a sua erudição e competência,
chega um momento em que o lado humano
prevalece e vêm à tona todos os "fingimentos" que um poeta carrega em suas costas, porque ninguém é de ferro!, não achas?
um beijo
Ninguém é mesmo de ferro, amiga.
ResponderExcluirE as dores tantas e os prazeres muitos são marcas dessa alma-pregada-no-corpo, que já deu mote a tantos tratados teológicos, teleológicos e outros quejandos.
Valeu por nos trazer de volta tão interessante polêmica desses dois pensadores brasileiríssimos.
Um bom fim de semana.
E um abraçamigo e fra/terno.
Salve!, Salve!, Eurico. Bom te receber por aqui 'tra vez :)
ResponderExcluirAs polêmicas são sempre saudáveis
e sempre nos acrescentam algo de
novo para se pensar sobre coisas já
estabelecidas, acho.
Um bom final de semana pra ti
e um grande abraço