Faz alguns milhares de anos que a espécie humana se adaptou à leitura. O olho lê e o corpo inteiro entra em ação. Ler significa também encontrar uma posição apropriada, é um ato que envolve o pescoço, a coluna vertebral, os glúteos. E a forma do livro, estudada durante séculos e ajustada sobre formatos ergonomicamente mais adequados, é a forma que esse objeto deve ter para ser segurado pela mão e levado à correta distância do olho. Ler tem a ver com a nossa fisiologia.
O ritmo da leitura acompanha o do corpo, o ritmo do corpo acompanha o da leitura. Não se lê apenas com o cérebro, lê-se com o corpo inteiro, e por isso sobre um livro nós choramos, e rimos, e lendo um livro de terror se nos eriçam os cabelos na cabeça. Porque, mesmo quando parece falar só de ideias, um livro nos fala sempre de outras emoções, e de experiências de outros corpos. E, se não for somente um livro pornográfico, quando fala de corpos sugere ideias. Tampouco somos insensíveis às sensações que as polpas dos dedos experimentam ao tocá-lo, e certos infelizes experimentos feitos com encadernações ou até páginas de plástico nos dizem o quanto a leitura é também uma experiência tátil.
Se a experiência do livro ainda os intimida, comecem, sem temor, a ler livros no banheiro. Descobrirão que também os senhores têm uma alma.
Umberto Eco, em Memória Vegetal - Editora Record.
É bem isso, Ci, ler um livro é uma aventura pra o corpo e para a alma!
ResponderExcluirBeijos,
Que achado esse texto.
ResponderExcluirGrato pelo compartilhamento.
Abç
grande Umberto Eco...
ResponderExcluira gente bem sabe o quanto o corpo se envolve na leitura, né?
beijos, Ci!