Sobe da sombra mais opaca
a tua figura radiosa
oh palavra misteriosa!
No obscuro pulsar de cada ato
reconstróis tudo por ausência
e o sentido consentido
sobe sem esforço as tuas escarpas
Potencial qualidade do outro
o teu segredo está
numa parábola
numa elipse
num ponto só
infinitamente alheio e sem medida.
[ O pavão negro, 2003]
A ausência
Oh como te ex-amo
como tudo se torna direção imprecisa
É uma coisa terrível!
tudo ser tão evidente
no seu vazio
controverso
verso
Seta por dentro
a onda vive de perfil o seu ex-ato
imprecisando as criaturas
Oh como o eu-outro aflora culminando
falo contigo
mas é um outro que contigo fala
um outro
que ex-amadamente arde ainda
Não vês a curva da palavra?
A face do amor é ausência de rosto.
[A idade da escrita, 1998]
Ana Hatherly, Porto, Portugal (1929- )
Imagens da autora.
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