DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

24/10/2012

Flor nacional


 
 


Toda a gente diante da vitória-régia fica atraído, como Saint-Hilaire ou Martius, ante o Brasil. Mas vão pegar a flor pra ver o que sucede! O caule e as sépalas, escondidos na água, espinham dolorosamente. A mão da gente se fere e escorre sangue. O perfume suavíssimo que encantava de longe, de perto dá náusea, é enjoativo como o que. E a flor, envelhecendo depressa, na tarde abre as pétalas centrais e deixa ver no fundo um bandinho nojento de besouros, cor de rio do Brasil, pardavascos, besuntados de pólen. Mistura de mistérios, dualidade interrogativa de coisas sublimes e coisas medonhas, grandeza aparente, dificuldade enorme, o melhor e o pior ao mesmo tempo, calma tristonha, ofensiva, é impossível a gente ignorar que a nação representa essa flor...


Mário de Andrade - (1893-1945) - Crônica publicada no "Diário Nacional", de 07/01/1930- São Paulo, Duas Cidades - 1976

9 comentários:

  1. A verdadeira beleza nasce dessa dualidade, desse contraste, das interrogações, do mistério do olhar distante e do olhar próximo. Um povo, uma nação, uma alma, belos pelo que guardam de sombras e luzes. Não conhecia o texto, e é tão expressivo e também poético. Define, sem definir. Maravilhoso. Beijos, Ci.

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    1. Tuas leituras são sempre enriquecedoras,
      Tânia!

      beijosss

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  2. Eita dualidade da vida, nada é só belo...

    #Uma pena.

    beijobeijo.

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    1. Se não houvesse essa dualidade, talvez
      fosse pior. Acho...

      beijobeijo

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  3. é ela, a do maracujá e a da flor de laranjeira.

    vai encarar?

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    1. E nós, Roberto? Quantas sépalas, quantos espinhos e etc e tal?
      Temos que encará-los, encarar-nos, não?

      beijo

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  4. flor quase humana, tábua de ambivalências, arma e o conflito.
    flor quase sentimento, sentimento maior preso solto na água como se fosse no ar.
    flor de hipnose.
    flor de desejo.
    flor para o sono de um amor nu.
    flor para a dor.

    beijos, Ci.

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    1. Flor inspiradora, não é, Lê?
      Flor de múltiplas pétalas
      que se abrem
      que se fecham.
      Flor exuberante de vida
      e de dor
      de prazer
      e de agonia!
      Flor ambivalente e única.
      Flor que reina
      e que sucumbe.
      Assim somos todos nós:
      FLOR!

      Obrigada pelo poema, belo, belo!

      beijos

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  5. Ci, belo poema você fez :)
    Eu que me sinto agradecida.
    Beijoss

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