Toda a gente diante da vitória-régia fica atraído, como Saint-Hilaire ou Martius, ante o Brasil. Mas vão pegar a flor pra ver o que sucede! O caule e as sépalas, escondidos na água, espinham dolorosamente. A mão da gente se fere e escorre sangue. O perfume suavíssimo que encantava de longe, de perto dá náusea, é enjoativo como o que. E a flor, envelhecendo depressa, na tarde abre as pétalas centrais e deixa ver no fundo um bandinho nojento de besouros, cor de rio do Brasil, pardavascos, besuntados de pólen. Mistura de mistérios, dualidade interrogativa de coisas sublimes e coisas medonhas, grandeza aparente, dificuldade enorme, o melhor e o pior ao mesmo tempo, calma tristonha, ofensiva, é impossível a gente ignorar que a nação representa essa flor...
Mário de Andrade - (1893-1945) - Crônica publicada no "Diário Nacional", de 07/01/1930- São Paulo, Duas Cidades - 1976
A verdadeira beleza nasce dessa dualidade, desse contraste, das interrogações, do mistério do olhar distante e do olhar próximo. Um povo, uma nação, uma alma, belos pelo que guardam de sombras e luzes. Não conhecia o texto, e é tão expressivo e também poético. Define, sem definir. Maravilhoso. Beijos, Ci.
ResponderExcluirTuas leituras são sempre enriquecedoras,
ExcluirTânia!
beijosss
Eita dualidade da vida, nada é só belo...
ResponderExcluir#Uma pena.
beijobeijo.
Se não houvesse essa dualidade, talvez
Excluirfosse pior. Acho...
beijobeijo
é ela, a do maracujá e a da flor de laranjeira.
ResponderExcluirvai encarar?
E nós, Roberto? Quantas sépalas, quantos espinhos e etc e tal?
ExcluirTemos que encará-los, encarar-nos, não?
beijo
flor quase humana, tábua de ambivalências, arma e o conflito.
ResponderExcluirflor quase sentimento, sentimento maior preso solto na água como se fosse no ar.
flor de hipnose.
flor de desejo.
flor para o sono de um amor nu.
flor para a dor.
beijos, Ci.
Flor inspiradora, não é, Lê?
ExcluirFlor de múltiplas pétalas
que se abrem
que se fecham.
Flor exuberante de vida
e de dor
de prazer
e de agonia!
Flor ambivalente e única.
Flor que reina
e que sucumbe.
Assim somos todos nós:
FLOR!
Obrigada pelo poema, belo, belo!
beijos
Ci, belo poema você fez :)
ResponderExcluirEu que me sinto agradecida.
Beijoss