Fato 1. Duas gavetas fechadas. Não sei o que fazer com elas. Vou esperar as lembranças que vêm quando paramos no tempo.
[...]
Tudo está disposto à confusão. O nada se diz de muitos modos e tenho só duas gavetas para dar cabo da questão.
Porém, como o nada é sorrateiro, diante dos sistemas e classificações quase evidentes, basta perceber, deve haver em algum lugar o abismo de olhos rígidos a pulsar prestes ao bote. Em uma das gavetas, é certo, mais que certo, um axioma, uma verdade das que tornam inerte a vida toda. É dele que vou falar, mesmo sabendo que deveria calar.
Então, primeiro, calo-me, mas não sei por quanto tempo. Um minuto, um segundo, um dia, um ano. Talvez o tempo exato do talvez que me alucina. E como há muitos modos de dizer o nada, e as duas gavetas e o sorrateiro abismo de olhos para o nada, existem os vários mundos e o modo de dizê-los, mas o que interessa aqui são os modos de não dizer e desdizer. Para amenizar a imaginação até que fique morta, pois tem me dado muita dor de cabeça. Direi para qualquer efeito de apenas dois dos mundos o que se diz e o que se desdiz, a opção pela facilidade é sempre a mais sábia. E prestarei atenção em mim, antes do inventário dos feitos. Talvez em pouco tempo eu mude de ideia, pois a classificação tem um indício, mas jamais tem limite.
Eu, e eu? Vivo sobre esta cadeira sem rodas. Já deixei de ser humana e virei coisa. Igualei-me ao ambiente. Não é difícil confundir o imóvel e o objeto. Mas classificar-me cansa como seguir Sócrates e seu conhece-te a ti mesmo.
Ninguém conhece a si mesmo.
Assim desosso as horas, ou, para evitar metáforas, espero.
Marcia Tiburi, em Magnólia - Editora Bertrand do Brasil Ltda.
É ótima, não? rs Sei que não gosta, mas queria vc lá no face, brincando de delirar com imagens, com a gente...rs
ResponderExcluirBeijos, Ci!
EXCELENTE TEXTO. GRACIAS POR COMPARTIR.
ResponderExcluirUN ABRAZO