John Batho
Um homem que se amava e não tinha rivais
Em sua mente se achava o mais belo do mundo.
Os espelhos achava imprecisos demais,
E vivia feliz em seu erro profundo.
Com fito de o curar a sorte oficiosa
Punha-lhe à frente, pressurosa
Os conselheiros mudos que as mulheres adoram:
Espelhos pela casa, espelhos nos mercantes,
Espelhos na algibeira dos galantes,
Espelhos nas cinturas das senhoras.
Que faz nosso Narciso? Ele vai confinar-se
Nos mais longes confins que pode imaginar-se,
Sem ousar enfrentar de espelhos a aventura.
Mas um longo canal feito por fonte pura
Se encontra alí daqueles lados;
Ele se vê, se zanga, e os olhos irritados
Pensam estar a ver alguma vã quimera.
Tudo o que pode faz para evitar essa água;
Mas o canal tão lindo era
Que ele só se afasta com mágoa.
Vê-se aonde eu quero chegar.
Eu falo a todos, e esse erro gritante
É mal que cada um apraz-se em cultivar.
Nossa alma é esse homem de si mesmo amante;
Tantos espelhos são as tolices alheias,
Espelhos a pintar nossas falhas tão feias;
Quanto ao canal, já sabe a gente,
das Máximas é o livro, simplesmente.
em Fábulas de La Fontaine
Não conhecia, muito bom!
ResponderExcluirBeijos, Ci