DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

08/09/2015

A verdade tem duas caras e a neve é negra



A verdade tem duas caras e a neve é negra na nossa cidade. Já não somos capazes de desespero como antes, e o fim caminha para a muralha, com passos firmes, sobre este azulejo molhado de lágrimas, com passos firmes. Quem baixará as nossas bandeiras: nós, ou eles? E quem nos lerá “o acordo de paz”, ó rei da agonia? Tudo está preparado, quem arrancará os nossos nomes da nossa identidade: você ou eles? E quem semeará em nós o discurso da arrogância: “Não conseguimos romper o cerco, entreguemos as chaves do paraíso para o ministro da paz, e salvemo-nos...” A verdade tem duas caras, o lema santo era uma espada para nós e sobre nós, e então o que você fez do nosso forte antes desse dia? Você não lutou porque temia a morte, mas o seu trono é um caixão, carregue então o seu caixão para salvar o trono, ó rei da espera. Esta paz fará de nós um punhado de pó.... Quem vai nos enterrar os dias depois que tivermos ido: você ou eles? Quem levantará as bandeiras deles sobre as nossas muralhas: você ou um cavalheiro sem esperanças? Quem pendurará os sinos em cima da nossa partida: você ou um guarda miserável? Tudo está preparado para nós, então por que delonga a negociação, ó rei da agonia?


Mahmoud Darwish nasceu na aldeia Al-Birweh, na Palestina em 1942 e faleceu em 2008, em Houston(EUA). Em 1988 escreveu a Declaração de Independência da Palestina, lida por Yasser Arafat quando declarou unilateralmente a criação do Estado Palestino.
É considerado o poeta nacional da Palestina; seus poemas já foram traduzidos para mais de vinte idiomas.

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