Fisionomia
não é mentira
é outra
a dor que dói
em mim
é um projeto
de passeio
em círculo
um malogro
do objeto
em foco
a intensidade
de luz
de tarde
no jardim
é outrart
é outra a dor que dói.
***
houve um poema
que guiava
a própria ambulância
e dizia: não lembro
de nenhum céu que me console
nenhum
e saía
sirenes baixas
recolhendo os restos das conversas,
das senhoras,
"para que nada se perca
ou se esqueça",
proverbial,
mesmo se ferido,
houve um poema
ambulante
cruz vermelha
sonâmbula
que escapou-se
e foi-se
inesquecível,
irremediável,
ralo abaixo
***
olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue nas gengivas
***
Soneto
Pergunto aqui se sou louca
Quem quer saberá dizer
Pergunto mais, se sou sã
E ainda mais, se sou eu
Que uso o viés pra amar
E finjo fingir que finjo
Adorar o fingimento
Fingindo que sou fingida
Pergunto aqui meus senhores
quem é a loura donzela
que se chama Ana Cristina
E que se diz ser alguém
É um fenômeno mor
Ou é um lapso sutil?
Navegação da palavra
...as palavras bocas e ouvidos
as palavras hálitos bravios:
velas pandas nas noites
verticais
***
como rasurar a paisagem
a fotografia
é um tempo morto
fictício retorno à simetria
secreto desejo do poema
censura impossível
do poeta.
Ana Cristina Cesar, a poeta que nasceu em 1952 e partiu sem pedir licença ao tempo, em 1983, será homenageada a partir de amanhã, 29.06 a 03.07.2016
na FLIP-Festa Literária Internacional de Parati(RJ).
***
como rasurar a paisagem
a fotografia
é um tempo morto
fictício retorno à simetria
secreto desejo do poema
censura impossível
do poeta.
Ana Cristina Cesar, a poeta que nasceu em 1952 e partiu sem pedir licença ao tempo, em 1983, será homenageada a partir de amanhã, 29.06 a 03.07.2016
na FLIP-Festa Literária Internacional de Parati(RJ).
Hermoso y triste, la esencia de los versos ya desnudos y ese
ResponderExcluirpoema atrevido que conduce su propia ambulancia...y que no recorda consuelo de ningún cielo.
Ese intento desesperado de trascender que todos en algún momento hemos sentido...
"Para que nada se pierda, para que nada se olvide"
Es un placer pasar por aquí, intentar no olvidar lo poco que sé de tu bello idioma, y descubrir a poetas que no conocía, como Ana Cristina Cesar, que también decidió conducir su propia ambulancia.
Muchos besos,