Não te rendas, ainda estás a tempo
de alcançar e começar de novo
aceitar as tuas sombras
enterrar os teus medos
largar o lastro
retomar o voo.
Não rendas que a vida é isso
continuar a viagem
perseguir os teus sonhos
destravar os tempos
arrumar os escombros
e destapar o céu.
Não te rendas por favor, não cedas
ainda que o frio queime
ainda que o medo morda
ainda que o sol se esconda
e se cale o vento:
ainda há fogo na tua alma
ainda existe vida em teus sonhos
Porque a vida é tua e teu também é o desejo
porque o quiseste e eu te amo
porque existe o vinho e o amor
porque não existem feridas
que o tempo não cure.
Abrir as portas
tirar os ferrolhos
abandonar as muralhas que te protegeram
viver a vida e aceitar o desafio
recuperar o riso
ensaiar um canto
baixar a guarda e estender as mãos
abrir a asas e tentar de novo
celebrar a vida e relançar-se no infinito.
***
Em pé
continuo em pé
por pulsar
por costume
por não abrir a janela decisiva
e olhar de uma vez a insolente
morte
essa mansa
dona da espera
continuo em pé
por preguiça nas despedidas
no fechamento e demolição
da memória
não é um mérito
outros desafiaram
a claridade
o caos
ou a tortura
continuar em pé
quer dizer coragem
ou não ter
onde cair morto.
Mário Benedetti, Paso de los Toros(Uruguai) 1920-2009
Nenhum comentário:
Postar um comentário