Gustave Doré
Esta noite eu tomaria todas as drogas do mundo
beberia todos os oceanos e transaria homens e mulheres
até morrer dilacerado de dor
Esta noite eu faria qualquer coisa
pra não sentir este vazio brochante
e esta puta angústia velha e louca
Esta noite eu poderia morrer sem a mínima pressa
nem qualquer tristeza porque experimental é o paraíso
e me contento em ter feito com o corpo o mais belo
poema que a poesia almeja
Eu me converteria e cometeria
todos os vícios
sobretudo os que aprendi no hospício
e toda depravação
igual a que cometíamos na prisão
Depois me entregaria a deus e ao diabo
perplexo como o menino
que fez arte e não pode ser artista
ou o artista que esqueceu de ser menino
e de repente descobriu que é tarde.
Cairo Assis Trindade, em "Antologia-Arte Pornô" - Codecri, 1984, RJ
Nenhum comentário:
Postar um comentário