DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

09/11/2017

A raposa e os perus

Marc Chagall

 
Contra os assaltos da raposa
Uma árvore aos perus servia de cidadela.
A pérfida, a rondar esse abrigo, gulosa
Vendo-os de sentinela,
Exclamou: "Quê! Essa gente vai zombar de mim?!
Não, pelos deuses! não." E manteve a conduta.
O luar claro, contra a senhorinha astuta,
Parecia ajudar a perueira raça.
Ela, nada noviça em assediar caça,
Recorreu ao seu saco de astúcias piratas,
Fingiu querer subir, levantou-se nas patas,
Bancou a morta e já ressuscitou depressa.
Arlequim não teria essa
Gama de tantas personagens.
Ela estalava a cauda, a fazia brilhar,
E cem mil outras marotagens.
Enquanto isso nenhum peru quis cochilar:
A inimiga os deixava assim de olhar fixado
No mesmo objeto mostrado.
Os coitados, ficando ao longo embevecidos,
Sempre caía algum: tantos já recolhidos,
Tantos postos à parte; quase a metade deles.
A companheira os põe no seu guarda-comida.
 
Dar atenção demais aos perigos da vida
Não raro faz cairmos neles.
 
Jean de La Fontaine - Chateau-Tierry(França) 1621-1695

Nenhum comentário:

Postar um comentário