DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

25/11/2017

Almas mortas

 
 
 
Depressa tudo se transforma no ser humano: nem ele próprio percebe como cresce dentro dele um verme terrível
que se apropria de toda a seiva vital. E, mais de uma vez,
 a paixão - grande ou mesquinha - cresce em um indivíduo que nasceu para coisas melhores, obrigando-o a esquecer seus deveres, transformando o que é grande em trivialidades mesquinhas.
Incontáveis como as areias do mar são as paixões humanas
e todas elas diferem entre si; e todas elas, as vis como  as
nobres, a princípio são dominadas pelo homem, para logo depois se transformarem em seus tiranos.
[...] Sim, meus leitores, vós preferiríeis não tomar conhecimento da miséria humana. Para que, dizeis vós, qual
é a utilidade disso? Então não sabemos que existe muita coisa ridícula e desprezível na vida? Melhor seria se nos mostrassem o belo, o aprazível. Melhor seria que esquecêssemos, que escapássemos disso! Para que me dizeis que os negócios vão mal em minha terra? Isso, meu amigo, sei sem a tua ajuda. Será que não tens outros assuntos para mim? Deixa-me esquecer essas coisas, não
quero saber delas, só assim ficarei feliz. E assim o dinheiro
que poderia servir para colocar os negócios em ordem será
empregado em recursos que levam ao esquecimento.
 
Nicolai Vassilievitch Gogol (Ucrânia, 1809-1852) em
Almas Mortas

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