DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

28/02/2009

Todas nós estamos engajadas nesta tarefa de liberação dos falsos "eus", os "eus programados" ou os "eus" criados pelas nossas famílias, nossa cultura, nossas religiões. Tarefa difícil, pois a história das mulheres foi tão mal contada quanto a dos negros. Muita coisa foi dissimulada. Certas culturas como as da Índia, do Camboja, ou da China ou do Japão tornaram nossa vida sexual acessível e familiar através da expressão de seus artistas masculinos. Mas em geral, quando as mulheres desejaram revelar certos aspectos da sua sensualidade, suas vozes foram abafadas. Menos abertamente do que a queima dos livros de D.H.Lawrence ou o banimento das obras de Henry Miller ou James Joyce, mas através de um longo e contínuo denegrimento por parte da crítica. Várias mulheres recorreram ao uso de nomes de homens para assinar suas obras, a fim de escaparem aos preconceitos. {.....................................} Se nos aprofundarmos no estudo da sensualidade feminina chegaremos à mesma conclusão de sempre:não se pode generalizar, há tantos tipos de mulheres quanto as próprias mulheres. E uma coisa é certa: a literatura erótica dos homens não satisfaz às mulheres. É tempo de escrevermos a nossa; nossas necessidades, fantasias e comportamentos eróticos são diferentes. A maioria das mulheres não se sente excitada por descrições explícitas, por uma linguagem crua.
"Em Busca de um Homem Sensível" - Anaïs Nin, escritora francesa (1903-1977)

27/02/2009

Não quero o encanto do canto que encanta,
não mais a melodia do acalanto,
nem mais os sortilégios do quebranto,
no engano de quem canta o mal espanta.

Eu quero o desengano do anticanto,
o gemido de quem não mais canta,
o pão embolorado como janta
e a dor inútil de um inútil pranto.

Silêncio: eis que chega a noite escura.
Não há mais poesia na cidade.
O poeta recolhe-se ao seu gueto,

sua torre de alfarrábios, sua clausura,
e, silenciosamente, sem piedade,
elabora o seu último soneto.

"Último Soneto" - Otto Leopoldo Wink , poeta nascido no Rio de Janeiro em 1967.

26/02/2009

Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) , nasceu em Milão, Itália.Aprendeu a pintar com o pai.Estudou as gravuras de Leonardo da Vinci, especializando-se em caricaturas. Em 1562 mudou-se para Praga tornando-se o pintor favorito da corte imperial. Fez cenários para o teatro imperial e retratos dos imperadores Fernando I, Maximiliano II e RodolfoII, todos adornados de flores e frutas, um detalhe característico de suas pinturas. Seu trabalho mais conhecido é uma série de cabeças representando as quatro estações do ano(1573), com elementos vegetais como flores, folhas e frutas.

O que dizem as palavras não dura.
Duram as palavras. Porque as palavras,
são sempre as mesmas, e o que dizem
nunca é o mesmo."


Antonio Porchia, poeta italiano, nascido em Conflenti, uma província da Calábria, na Itália, onde viveu até a sua adolescência quando então mudou-se para Buenos Aires, Argentina.
(1886-1965)

25/02/2009

Não sou eu que descrevo. Eu sou a tela e oculta mão
colore alguém em mim.
Pus a alma no nexo de perdê-la
e o meu princípio floresce sem fim.
Que importa o tédio que dentro em mim gela
e o leve outono, e as galas, e o marfim,
e a congruência da alma que se vela
como os sonhados pálios de cetim?
Disperso. E a hora como um leque
fecha-se...
Minha alma é um arco tendo ao fundo o mar...
O tédio? A mágoa? A vida?
O sonho? Deixa-se....
E abrindo as asas sobre Renovar,
a erma sombra do voo começado
pestaneja no campo abandonado...


"Passos da Cruz" - Fernando Pessoa

24/02/2009

Rio Antigo - por volta de 1905

Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que esse amor assim absoluto
e assim exagerado é partilhado por todos nós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos
parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos
com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia
o amor da rua. É este mesmo sentimento impertubável e indissolúvel, o único que,
como a própria vida, resiste à idade e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia
- o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia.
Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis.
Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.
A rua ! Que é a rua? Um cançonetista de Montmartre fá-la dizer:
Je suis la rue, femme éternellment verte,
Je n'ai jamais trouvé d'autre carrière ouverte
Sinon d'être la rue, et, de tout temps, depuis
Que ce pénible monde est monde, je la suis...*
A verdade e o trocadilho! Os dicionários dizem:"Rua, do Latim ruga,sulco. Espaço
entre as casas e as povoações por onde se anda e passeia." A obscuridade da gramática e da lei! Os dicionários só são considerados fontes fáceis de completo
saber pelos que nunca os folhearam. Abri o primeiro, abrí o segundo, abrí dez,
vinte enciclopédias, manuseei in-folios especiais de curiosidade. A rua era para eles
apenas um alinhado de fachadas, por onde se anda nas povoações...
Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!
Em Benarés ou em Amsterdã, em Londres ou em Buenos Aires, sob os céus mais diversos, nos mais variados climas, a rua é a agasalhadora da miséria.
* Eu sou a rua, mulher eternamente viva e nunca tive outra alternativa a não ser
a rua e, desde todo o sempre, desde que este penoso mundo é mundo, sou.."
"A Alma encantadora das Ruas" - João do Rio, pseudônimo do escritor e cronista
carioca João Paulo Alberto Coelho Barreto (1881-1921)

22/02/2009


Há quanto tempo que não tenho onde morar.
Se é chuva, apanho chuva.
Se é sol, apanho sol.
Francamente, pra viver nessa agonia,
eu preferia ter nascido um caracol!
Levava a minha casa nas costas muito bem:
não pagava aluguel, nem luvas a ninguém.
Morava um dia aqui,
um outro acolá...!
Leblon, Copacabana, Madureira, Irajá...

"Marcha do caracol" - de Peter Pan e Afonso Teixeira - 1951

19/02/2009

Como todo homem normal


Eu, como todo homem normal, sou maníaco.
Convivo bem com minhas obsessões.
Minhas relações com a angústia são cordiais,
porque não acho que no mundo tudo está ganho,
mas também nem tudo está perdido.
Simplesmente acho que falta fazer a melhor parte.
(Contem comigo)
Mas peço que se raciocine e se fale claramente.
E peço que se condene Deus por incapaz e o Diabo
por ridículo e a Glória, por exagerada e a Pureza
como impossível e o Sonhador por sonhar
e o burguês por má fé, e o Fanático por delito
na calada da noite.
Eu, como todo homem normal, estou apaixonado
por uma mulher grande e nervosa, belíssima, no limite
da histeria, por uma esplêndida mulher que gosta de viver,
que faz amor como uma noviça, apesar de seus grandes
olhos desenhados, de suas longas pernas duras
e do tremor de primavera, do frenético tremor obscuro
que descortina a alvura de seu ventre.
E estou apaixonado pelo meu tempo
que é brutal e também está à beira da histeria.
Estou apaixonado pelo meu tempo, com os nervos à flor da pele,
com a cabeça se debatendo entre o estrondo e a esperança,
entre a usura e o perigo, entre a morte e o amor.
.............................................................................................
Estou apaixonado por uma mulher belíssima
e neurótica como a História e me afundo
em suas carnes espaçosas, para que a aurora
que estamos construindo, não ilumine um planeta
solitário e melancólico.

Manuel Diaz Martinez - (1936- ) poeta cubano, autor de "Frutos dispersos", "Soledad y otros poemas", "El amor como ella", entre outros.

17/02/2009



Poemas Codaque

Juiz de Fora

Manchester das minas gerais
O crepúsculo escorrega violentamente
e cai
na paisagem de cartão-postal
e nos olhos espantados do Cristo-do-Morro.

Paisagem n. 2

Uma hora.
o dia parou como o meu relógio
nem uma folha só planta ruídos.
Nada.

e eu fico pensando na ingenuidade daquele homem alto
que fala muito rouco
tosse
tosse
tosse
e vive a vida à toa
quentando o sol o dia inteiro.

Rio de Janeiro
Os meus sentidos são
um menino.

Rosario Fusco de Souza Guerra - Nasceu em São Geraldo(MG) em 1910. Poeta, dramaturgo, jornalista, publicitário, formado em Direito, radialista, crítico literário.
Foi o primeiro escritor brasileiro a ter a profissão reconhecida pelo antigo INPS(hoje INSS). Publicou um total de 58 livros, entre os quais "Fruta de Conde"(poesia), "O Agressor"(romance) "Amiel" (ensaio), "O livro do João" (romance) "Anel de Saturno" e "O Viúvo"(ambos teatro), "A Experiência Estética" (ensaio). Participou da revista mineira modernista "Verde". É considerado o precursor do realismo fantástico no Brasil. Faleceu em Cataguases(MG) em 1977.

16/02/2009



A porta da Verdade estava aberta,
mas só deixava passar meia pessoa
de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a Verdade,
porque a meia pessoa que entrava,
só trazia o perfil de meia Verdade
e sua segunda metade voltava igualmente
com meio perfil e os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta,
chegaram ao lugar luminoso, onde a Verdade
esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho,
sua ilusão, sua miopia...

"Verdade" - Carlos Drummond de Andrade
PAISAGENS QUASE DESCONHECIDAS DE NOSSO BRASIL -III
Lençóis Maranhenses - MA

15/02/2009

O Brasil é um país que foi constituído pela mistura de vários povos, mas os primeiros habitantes deste vasto continente, foram os índios, que viviam aqui tranquilamente e,
de repente, não mais que de repente, foram invadidos, explorados e brutalmente massacrados, por não se submeterem ao invasor que os tratavam como escravos. Ao
constatarem que não conseguiriam submetê-los, praticaram outra violência contra
outro povo: o africano. Trouxeram os africanos acorrentados, à força, para trabalharem de graça, em suas fazendas, seus engenhos de cana-de-açúcar. O Brasil foi o último país a abolir a escravidão. E o que esses povos receberam em troca? Fome, miséria, abandono, discriminação: Racismo. Os índios estão praticamente exterminados, continuam sendo violentados, assassinados, queimados em bancos de praças e seus autores continuam impunes. Quanto aos negros, são os que menos têm acesso às escolas, ao emprego decente, a uma vida digna. O que sabemos a respeito do Continente Africano? Alguém tem conhecimento do que acontece no Congo, no Zimbábue, na Mauritânia, na Etiópia, Serra Leoa, Guiná-Bissau, Moçambique, Luanda? É um continente imenso e riquíssimo em reservas minerais, petróleo. Como se explica que um continente tão rico viva na maior pobreza do mundo, e que seu povo, em uma boa parte do continente ainda tenha por costume a excisão do clitóris e dos pequenos lábios da vulva feminina, em crianças a partir de sete anos de idade? Os homens, os que têm poder, seja através do governo ou de organizações secretas que são a favor desta prática, aproveitam-se de um princípio dito religioso, ou rito de passagem, para praticar as maiores atrocidades, utilizando-se muitas vezes de objetos cortantes, pontiagudos, pedaços de paus, para perpretarem essa barbaridade. Até mesmo os grupos de religião mulçumana, realizam tal prática a sangue frio, sem anestesia e sem nenhuma higiene, provocando, além de dor violenta, trauma psicológico, o risco de infecção, na maioria dos casos irreversível. Calcula-se que o número de mulheres que vêm a óbito ja alcançou os 3 milhões! Em períodos de guerra, como vem acontecendo ultimamente no Congo e no Zimbábue, essas atrocidades são praticadas em proporções assustadoras. As mulheres e as crianças de 7, 9 anos de idade, agora mesmo, no Congo, estão sendo vítimas de horrores semelhantes ou até piores que os do holocausto nazista. A Inglaterra, a França, a Bélgica, a Holanda e até mesmo Portugal, já mamaram muito nas tetas africanas, sugaram todo o seu leite. E como se não bastasse, os EUA também querem o seu quinhão. O que eles fazem por esses povos? Entram, instalam-se, adonam-se e criam uma rede de intrigas entre eles mesmos, os africanos. As lutas inter-tribais são violentas e os soldados praticam a violência sexual, disseminando o vírus da AIDS, para acabar mais rápido com a população. O que a mídia brasileira divulga sobre a África? Aliás, o que ela divulga sobre a América Latina, também? O que sabemos sobre a cultura de nossos irmãos latino-americanos? NADA. Temos que engolir esses
big bostas da vida, "domingo legal"(pra eles, é claro) e nós....!?

12/02/2009

Eu quero amar...amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui, ...além...
Mais este e aquele, o outro e toda gente...

Amar! Amar!
E não amar ninguém!

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,

que poisam sobre duas violetas,

asas leves cansadas de voar...


E a minha boca tem uns beijos mudos...

E as minhas mãos, uns pálidos veludos,

traçam gestos de sonhos pelo ar...


Languidez - Florbela d'Alma da Conceição Espanca (1894-1930)

11/02/2009

....Os olhos, por enquanto, são a porta do engano;duvide deles, dos seus, não de mim.
Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de
rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente...E então?
[..................] Vejo que começa a descontar um pouco de sua inicial desconfiança, quanto ao meu são juízo. Fiquemos, porém, no terra-a-terra.Rimo-nos, nas barracas
de diversões, daqueles caricatos espelhos, que nos reduzem a monstrengos, esticados
ou globosos. Mas, se só usamos os planos - e nas curvas de um bule tem-se sofrível
espelho convexo, e numa colher brunida um côncavo razoável - deve-se a que primeiro a humanidade mirou-se nas superfícies de água quieta, lagoa, lameiros, fontes, delas aprendendo a fazer tais utensílios de metal ou cristal. Tirésias, contudo,
já havia predito ao belo Narciso que ele viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse. Sim, são para se ter medo, os espelhos.

Extraído de "Primeiras Estórias" de João Guimarães Rosa

10/02/2009

"Lembrança"
Se tu queres uma lembrança de mim,
Pede-me agora, pois vou partir e
pode ser que por aqui, talvez,
não volte nunca mais! Se tu queres
uma lembrança de mim, pede depressa
para que eu te deixe o coração, que
no meu peito não se cansa de chorar!
Eu, sim, quero uma lembrança de ti,
um doce beijo, um beijo ardente como o Sol,
que queime toda esta ansiedade de amor!
Um beijo teu, um doce beijo é uma
lembrança que jamais esquecerei!
Composição de Chancho Martinez Gil
Versão de Serafim Costa Almeida

09/02/2009


Ary Evangelista Barroso, nasceu em Ubá(MG) em 1903. Foi pianista, compositor, regente, radialista, advogado e vereador. Ficou órfão dos pais aos sete anos de idade,
sendo educado pela avó materna. Deixou cerca de 264 composições, entre as quais se
destacam "Aquarela do Brasil", (considerada como o segundo hino nacional), "Na Batucada da Vida", "Morena Boca de Ouro" e na "Baixa do Sapateiro". faleceu em 09-02-1964. Segue abaixo um vídeo pitoresco de "Aquarela do Brasil". Divirta-se.

http://www.almacarioca.com.br/arte070.htm
Carmem Miranda


Maria do Carmo Miranda da Cunha ou Carmem Miranda como ficou conhecida, nasceu em Marco de Canavezes, Portugal, em 09 de fevereiro de 1909. Veio com os pais para o Rio de Janeiro com um ano de idade. Começou a trabalhar ao dezesseis
anos de idade como costureira de chapéus e posteriormente como vendedora de gravatas. Cantou pela primeira vez em uma festa do Instituto Nacional de Música, despertando a atenção do produtor Josué de Barros, que a convidou para fazer um teste na gravadora RCA Víctor. Saiu dalí com um contrato assinado com a gravadora
e muito sucesso, a ponto de passar a ser chamada de "pequena notável". Um dos seus primeiros sucessos foi a marchinha "TAÍ", composição de Joubert de Carvalho(1939).
Na década de 1940, tornou-se atriz de cinema, consagrando-se internacionalmente em participações de dezenas de filmes produzidos em Hollywood. Entre os mais conhecidos estão "Down Argentine Way," Weekend in Havana", Four Jills in a Jeep.
Faleceu em agosto de 1955.


Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ai meu bem, não faz assim comigo não!
Você tem, você tem que me dar seu coração!
Essa estória de gostar de alguém,
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse nosso senhor
Eu não pensaria mais no amor...

Meu amor não posso esquecer
Se dar alegria, também faz sofrer
A minha vida foi sempre assim,
Só chorando as mágoas que não têm fim!

06/02/2009

"...Eu não vou me tornar as relações como elas são, a gente sabe como elas são, eu não vou pensar o que todo mundo pensa, eu não posso, é difícil demais, eu não posso conseguir isso, eu não posso conseguir pensar o que todo mundo pensa,
é pensamento demais ao mesmo tempo, não posso pensar vários pensamentos de
uma vez, a gente sabe muito bem o que todo mundo pensa, a gente sabe muito bem
o que são as relações, como elas são, em que se sustentam, o número de pessoas que
pensam que pensam ao mesmo tempo, eu não conseguirei pensar o que todo mundo
pensa, não posso, não vou entrar na sua nuca, não pelas orelhas, pelas narinas ou
pelos olhos, vou passar direto entrando na nuca, ficarei perto dos nervos, perto do
cerebelo, poderei mudar a recepção dos nervos, de todos os nervos e encher a hípófise
de produtos hormonais, terei a possibilidade de explodir, de partir em todas as direções desde o cerebelo, de fazer a máquina funcionar, que a máquina esteja em atividade, que ela produza pólvora, que haja toneladas de pólvora, uma produção ininterupta de pólvora, zapeia, explode, passa, pega, prende, escuta, agarra, recolhe,
é uma chapa de tudo o que passou e foi agarrado e foi conservado, tudo se conserva,
o caleidoscópio visiona todas as formas, todas as escutas, todas as gravações, todas as formas visionadas, todas as escutas, o desfile, a gravação, a absorção, o tam-tam da
absorção contínua, a broca perfura, o escavador perfura, a roda dentada perfura, prossegue seu caminho nos subterrâneos, na escuridão iluminada pelos neons dispostos a cada vinte metros, mantém em conserva todos os desfiles, passa para outra coisa, é uma imagem ininterrupta."

Christophe Tarkos , poeta francês.(1964-2004)

04/02/2009

PARABÉNS, MACAPÁ !!


"Marco Zero" - Macapá
Fundada em 04 de fevereiro de 1758, a cidade de Macapá, capital do Estado do Amapá, completa hoje 251 anos. A única cidade banhada pelo rio Amazonas, fica a 345km de Belém. O seu nome tem origem tupi-guarani e significa "lugar de muitas
macabas"(palmeiras). A cidade é cortada pela linha imaginária do Equador e seu
acesso só é possível através de avião ou de barco por tratar-se de um porto fluvial.
Para registrá-la foi construído um monumento chamado de Marco Zero, a 5km do
centro da cidade, contendo um relógio de sol e um terraço para visitação, permitindo
ao visitante trocar de hemisfério a qualquer momento.

Macapá


Amapá - "Macabas"


Escultura em argila como homenagem às parteiras. O Estado do Amapá concentra o maior número de parteiras do país.


Vendedor de cana - Macapá(AP)


Hilda Hilst /Zeca Baleiro, preparação para gravação do poema "Júbilo Memória Noviciado da Paixão" CD gravado pelo compositor maranhense

Amada vida, minha morte demora.

Dizer que coisa ao homem,

propor que viagem? Reis, ministros

e todos vós, políticos,

que palavra além de ouro e treva

fica em vossos ouvidos?

Além de vossa RAPACIDADE

o que sabeis da alma dos homens?

Ouro, conquista, lucro, logro

e os nossos ossos

e o sangue das gentes

e a vida dos homens

entre os vossos dentes.



"Poema aos homens do nosso tempo" - Hilda Hilst, poeta, ensaísta, dramaturga, nasceu em Jaú(SP) em 21 de abril de 1930 e faleceu no dia 04 de fevereiro de 2004.

03/02/2009

Nativos da tribo do rio Omo - Etiópia


- Como, você por aqui, meu amigo? Você num lugar de má fama? Você, o bebedor de quintessências! Realmente surpreende-me.
- Meu amigo, você conhece meu pavor por cavalos e carruagens. Há pouco, enquanto atravessava a rua com pressa, saltando na lama, através desse caos em movimento, aonde a morte chega a galope de toda a parte, ao mesmo tempo, minha auréola, devido a um movimento brusco, deslizou-me da cabeça e caiu na lama do asfalto. Não tive a coragem de apanhá-la. Considerei menos desagradável perder minhas insígnias do que estraçalhar todos os meus ossos. E, ademais, disse-me, a desdita tem sua utilidade. Agora posso passear incógnito, cometer ações vis e entregar-me à libertinagem como simples mortal. Eis-me aqui, tal como me vê, idêntico a você.

"Perda da auréola", extraído de Spleen de Paris, de Charles Baudelaire (1821-1867)

02/02/2009

Lugar sem comportamento é o coração.
Ando em vias de ser compartilhado.
Ajeito as nuvens no olho.
A luz das horas me desproporciona.
Sou qualquer coisa judiada de ventos.
Meu fanal é um poente com andorinhas.
Desenvolvo meu ser até encostar na pedra.
Repousa uma garoa sobre a noite.
Aceito no meu fado o escurecer.
No fim da treva uma coruja entrava.
....................................................
Nuvens me cruzam de arribação.
Tenho uma dor de concha extraviada
Uma dor de pedaços que não voltam.
Eu sou muitas pessoas destroçadas.
"Auto-retrato falado" - Livro das Ignorãças-1993
Manoel de Barros (1916- )nasceu em Cuiabá-MT. Atualmente mora em Campo Grande(MS)
ECOLOGICAL DAY
"Casa do João de Barro" (cerrado brasiliense) Foto:Truman Macedo

01/02/2009

a liberdade repousa num sono secundário
entre o lado canhoto da vaidade
e o beco sujo de uma rua
sem poesia
para despertá-la de sua hibernação
é preciso
(primeiro)
limpar a sujeira da vaidade
(depois)
cantar hinos de louvor
numa cela sem grades


Cárcere Ideológico - Linaldo Guedes, poeta e ensaísta, nasceu em Cajazeiras(PB). É autor de "Os Zumbis também escutam blues e outros poemas".
Chove, chuva, chove sem parar em Fortaleza,agora!